Siga a folha

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

Descrição de chapéu Venezuela

Maduro não largou o osso

Regime pode sobreviver tornando-se mais autoritário, mas fraude escancara sua fragilidade

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

São Paulo

Como previsto, Nicolás Maduro e seus lugares-tenentes não largaram o osso. Alegam ter vencido o pleito presidencial com 51,2% dos votos, mas os sinais de fraude são volumosos. O que acontece agora?

No cenário que me parece mais provável, a oposição ensaia protestos que serão reprimidos. Por ter transformado os militares em sócios dos esquemas de extração de rendas estatais, Maduro conta com sua lealdade. Com o tempo, manifestações arrefecem, lideranças oposicionistas podem ser presas, e o bolivarianismo sobrevive operando num patamar ainda mais elevado de autoritarismo.

Nicolás Maduro celebra após ser declarado vencedor das eleições presidenciais na Venezuela - Juan Barreto/AFP - AFP

Num cenário que me parece menos verossímil mas não impossível, a farsa eleitoral encenada por Maduro acaba enfraquecendo o regime. Ditaduras são intrinsecamente instáveis. O poder, a exemplo do dinheiro e das leis, é uma realidade imaginada, isto é, algo que só existe porque a maioria das pessoas acredita ao mesmo tempo em sua existência e age de acordo. Se essa coordenação de expectativas se desfaz, é a própria instituição que pode ruir. Se, da noite para o dia, todos se convencessem de que o dólar não passa de papel pintado de verde e não mais o aceitassem, a moeda perderia seu valor.

Autocracias que pareciam muito mais solidamente estabelecidas do que a ditadura venezuelana, como os regimes comunistas do Leste Europeu, se esfacelaram ("caíram de maduro", para quem gosta de trocadilhos fáceis) depois que sequências específicas de acontecimentos permitiram a sincronização de disposições contestatórias latentes. O Muro de Berlim caiu após uma declaração desastrada de um ministro da Alemanha Oriental, que fez com que milhares de cidadãos tentassem atravessar para o Ocidente e que os soldados encarregados de impedi-los não agissem.

A fraude do domingo (28), ao escancarar para os venezuelanos e para o mundo o déficit de legitimidade do governo, facilita o surgimento desse tipo de coordenação de expectativas.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas