Siga a folha

Presidente do Instituto Igarapé, membro do Conselho de Alto Nível sobre Multilateralismo Eficaz, do Secretário-Geral. da ONU, e mestre em estudos internacionais pela Universidade de Uppsala (Suécia)

A maior certeza possível

O trabalho do cientista não é buscar a verdade

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Esta coluna foi produzida especialmente para a campanha #CientistaTrabalhando, que celebra o Dia Nacional da Ciência. Ao longo do mês de julho, colunistas cedem seus espaços para abordar temas relacionados ao processo científico, em textos escritos por convidados. Com vocês, Bernardo Strassburg, diretor do Instituto Internacional para Sustentabilidade, e Fabio Scarano, engenheiro florestal e professor associado da UFRJ.

Talvez uma das principais diferenças da ciência para outras formas de interpretação da realidade é que ela não é dogmática. À luz do método científico —que já se aperfeiçoa há mais 400 anos— tudo é possível. Graças a isso, teorias são destronadas, seja por meio de grandes revoluções científicas —como as que Galileu, Darwin, Einstein já proporcionaram— seja por meio de uma construção gradual de blocos de informação que levam ao conhecimento novo.

O processo científico é, portanto, essencialmente democrático. Como em toda democracia, a construção de consenso é difícil e talvez até não desejável. Quando crianças, nós dois imaginamos nos tornar cientistas ao crescer para termos “certeza absoluta”. Ledo engano: não imaginávamos que a rotina do trabalho científico não é a de gerar “certeza” ou “verdade” —próprias das práticas e doutrinas dogmáticas— mas sim de reduzir a incerteza, em busca da maior certeza possível.​

Logo, como basear tomadas de decisão pessoais ou coletivas em algo que guarda certa margem de incerteza? Toda e qualquer decisão, consciente ou instintivamente, se baseia em dois princípios que são íntimos, embora pareçam opostos: o do risco e o da precaução. A ciência busca a maior certeza possível por meio de repetições e generalizações.

Para a comunicação com a tomada de decisão, cientistas se reúnem em painéis científicos intergovernamentais (como o do clima, IPCC, ou o da biodiversidade, IPBES) ou em sociedades científicas nas quais centenas de especialistas se reúnem para listar recomendações práticas à luz da melhor ciência disponível.

Além disso, os cientistas também atuam de forma transdisciplinar e buscam não só credibilidade, mas também relevância e legitimidade dos seus resultados para a decisão, construindo ciência em conjunto com quem dela irá se utilizar —sejam governos, empresas ou a sociedade em geral.

Essas práticas reduzem o risco. Quando o cientista percebe que a incerteza é grande, prevalece a precaução: se não se sabe ou se sabe pouco, arriscar não é recomendado. No caso das mudanças climáticas e do declínio acentuado da natureza, o princípio da precaução foi formalmente reconhecido na Cúpula da Terra, no Rio, em 1992. As evidências dos problemas já eram grandes, mas algumas incertezas também. Três décadas depois, estas são muito menores e a certeza da gravidade dos problemas e urgência na busca de soluções já é das maiores possíveis.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas