Helio Beltrão

Engenheiro com especialização em finanças e MBA na universidade Columbia, é presidente do instituto Mises Brasil.

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Helio Beltrão

O método científico e o humanismo

Os cautelosos radicais preferem deixar morrer a tentar salvar

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Momentos como a atual pandemia nos brindam com provações. É fundamental tomarmos decisões que sobreviverão ao teste do tempo.

Em minha opinião, a comunidade médico-científica está sendo irresponsável em sua cautela radical com relação à hidroxicloroquina (HCQ), e, dependendo do desenrolar dos ensaios clínicos em andamento, o momento atual poderá vir a ser, em retrospectiva, o maior fracasso de sua história.

O problema reside no próprio entendimento do método científico e de suas condições de contorno. Aos olhos do leigo, o objetivo único da medicina é a saúde das pessoas, não tabelas estatísticas em um artigo acadêmico. Portanto, a adesão equivocada ao método pode, na atual circunstância, antagonizar ciência e humanismo, normalmente compatíveis.

A ciência raramente lida com absolutos, mas desloca determinada hipótese ao longo do eixo “verdadeiro-falso”, até que esta se localize bem próxima ao polo direito, de verdade apodítica, ou ao esquerdo, de falsidade absoluta.

A hipótese não alcança o polo extremo, mas, ao se aproximar suficientemente, suspende a dúvida da comunidade científica, que passa a aceitar a hipótese como quase certamente verdadeira, ou alternativamente, quase certamente falsa. A ciência, dessa forma, estabelece seu “fato”.

Como uma hipótese se torna um fato científico? Por meio de experimentos e testes padronizados e rigorosos, que removem erros e vieses. Ao apurar a eficácia de tratamentos na medicina, o padrão é aquele derivado de ensaios clínicos randomizados (RCTs), com dois grupos cuidadosamente selecionados: de controle, que ingere placebo, e o que ingere o medicamento.

Em seguida, o trabalho com significância estatística é submetido a publicações científicas reputadas com revisão por seus pares, e com o decorrer do tempo a comunidade científica atinge certo consenso. Esse processo completo pode durar vários meses, e até anos.

Ainda não houve tempo hábil de testar integralmente a hipótese de que a HCQ tenha eficácia contra o vírus. No entanto, é notável a extensão do deslocamento dessa hipótese em direção ao polo “verdade”, apesar de não haver atingido o ponto de cessarem as dúvidas.

Além dos resultados promissores dos ensaios não randomizados, há poucos dias foi publicado o artigo “Efficacy of hydroxychloroquine in patients with COVID-19: results of a randomized clinical trial” (Zhan Zhang et al), relativo a um RCT com 62 pacientes em Wuhan, que observou encurtamento do tempo de recuperação de febre e tosse, e melhora da pneumonia.

Com o atual corpo de evidências, o ônus da prova já se inverteu, e a pergunta é: o que fazer? A resposta está no devido entendimento do Princípio da Cautela, que parece governar a atitude da comunidade médica nesse caso.

O princípio sugere que um medicamento novo não deve ser adotado se seus riscos forem potencialmente altos e não calculáveis. Ao contrário, a HCQ tem toxicidade baixa e efeitos conhecidos há 70 anos. O uso durante o período de dez dias é reconhecidamente baixo.

A análise de benefícios diante dos riscos indica uma trivial e clara superioridade da alternativa pró-adoção. De fato, a FDA dos EUA aprovou a HCQ para todos os hospitalizados, graves ou não, afirmando que, “dado o conjunto de evidências, é razoável crer na eficácia da HCQ”, e também considera que seus “benefícios conhecidos e potenciais superam os riscos”.

Os cautelosos radicais preferem deixar morrer a tentar salvar, em nome de um excessivo rigor. O tratamento cedo é sempre preferível, e o Brasil tem um estoque da ordem de 5 milhões de doses que podem ser administradas em pacientes não graves desde já. É irresponsável não adotar a HCQ agressivamente de imediato.

Como eu sempre digo: nunca se automedique e consulte sempre o médico.

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