Siga a folha

Escritor, doutor em ciência política pela Universidade Católica Portuguesa.

Descrição de chapéu Oscar Filmes

'Licorice Pizza' diverte ao retratar juventude na Califórnia dos anos 1970

Filme de Paul Thomas Anderson é belo porque representa o último fulgor do verão antes do outono chegar

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Algo se passa com os diretores de cinema que nasceram nas décadas de 1960 e 1970. Kenneth Branagh regressou a Belfast para evocar a infância e a família em seu filme "Belfast". Paolo Sorrentino fez o mesmo com Nápoles em "A Mão de Deus".

E agora chegou Paul Thomas Anderson com "Licorice Pizza" e o mundo arcádico do vale de San Fernando, na Califórnia, em 1973. Talvez a pandemia tenha algo a ver com o assunto: quando as misérias do presente se tornam opressivas, a infância e a juventude são esse espaço arcádico e seguro onde podemos revisitar velhos rostos.

Alana Haim e Cooper Hoffman em "Licorice Pizza", filme de Paul Thomas Anderson - Divulgação

Um deles é Gary Valentine, personagem vivido por Cooper Hoffman, filho do saudoso Philip Seymour Hoffman, que teria ficado orgulhoso do filho. Atenção ao nome: Valentine. Paul Thomas Anderson sempre teve um talento particular para nomes (Daniel Plainview, Reynolds Woodcock), mas Valentine é um achado: o rapaz tem 15 anos, mas tenta a sua sorte com uma mulher de 25.

A mulher é Alana, interpretada por Alana Haim, que ri do valentão, perdão, do valentim, embora fique intrigada com a insistência e prosápia dele.

Apesar de tudo, jantam. Ele apaixona-se perdidamente por Alana. Ela mantém as distâncias. Mas como resistir a Gary, ator-mirim —em declínio, é certo, a acne não perdoa—, que se reinventa como empresário —primeiro, de colchões de água; depois, de máquinas de fliperamas?

Tentando um compromisso, talvez, atuando como sócia de Gary nos seus negócios e trambiques. É um compromisso frágil porque aqueles dois, apesar da diferença de idades, estão sempre em rota de colisão sentimental. É complicado. E é a coisa mais simples do mundo.

"Licorice Pizza" é como os colchões de água que Gary vende: um objeto divertido, ondulante, confortável, porém estranho. A estranheza está na dissonância que existe entre o mundo de Gary —e de Alana— e o mundo que corre lá fora, ameaçador e caótico.

Aliás, quando esse mundo se intromete na história –Gary preso por engano; a crise do petróleo que arruína os negócios; as hipocrisias da política— é apenas para amplificar a preciosidade daquela relação.

Ou, melhor dizendo, a preciosidade daquele momento: o fim da primeira juventude, o início da idade adulta com todas as suas angústias e fragilidades. "Licorice Pizza" é belo, intensamente belo, porque representa o último fulgor do verão antes do outono chegar.

Quando assistia a "Licorice Pizza", dei por mim a pensar no mais improvável dos romances: "Brideshead Revisited", de Evelyn Waugh. Lembrei-me de Sebastian, o personagem trágico da história, que falha essa passagem crucial para a maturidade.

É um destino que não imaginamos para Gary e Alana. Como na canção, o mundo sempre acolherá os amantes, à medida que o tempo passa.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas