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Coordenador geral do Instituto Cidades Sustentáveis, organização realizadora da Rede Nossa São Paulo e do Programa Cidades Sustentáveis.

Mais um aprendizado da pandemia: não desprezar a política

São as decisões políticas que aumentam ou diminuem o sofrimento de milhões de pessoas em países, estados ou municípios

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Dizem que aprendemos mais nas derrotas do que nas vitórias. Se assim for, são muitos os aprendizados deste momento trágico que vivemos. Um deles tem a ver com a importância da política. São as decisões políticas que aumentam ou diminuem o sofrimento de milhões de pessoas em países, estados ou municípios.

O acesso a um sistema de saúde e de educação de qualidade; a pobreza, que atinge grande parte da população brasileira; as condições de habitação, saneamento e segurança, tudo depende da política. A enorme desigualdade, causa de tantos outros problemas, é política. A devastação das florestas e a degradação da biodiversidade, que colocam em risco a vida, é política. O enfrentamento ao racismo, machismo, homofobia e xenofobia, é também uma decisão política.

Em todos esses temas, as lideranças têm papel chave e forte influência nas condições de vida da população. O problema é que faltam lideranças à altura dos desafios que vivemos, que pensem o mundo e os problemas comuns que nos impactam a todos. A pandemia, a desigualdade e o aquecimento global não respeitam as fronteiras dos países e exigem uma visão integrada que relacione o local e o global.

A crise hídrica no Brasil, as enchentes na Europa e a desigualdade na disponibilidade de vacinas entre países são pequenas amostras de um desequilíbrio que se acentua a cada dia. A superação dessas crises dependerá de lideranças com visão sensível e de longo prazo, em temas importantes e não necessariamente urgentes. Lideranças que não sejam pautadas pela opinião pública e que tenham clareza dos desafios a serem enfrentados.

Na pandemia, decisões políticas foram responsáveis por reduzir ou aumentar o número de mortes. Os governos da Coreia do Sul, Israel e Nova Zelândia são prova de êxito em suas ações. Já o Brasil e os EUA de Trump estiveram no outro extremo.

No Brasil, surgiram movimentos políticos suprapartidários para se contraporem à falta de propostas, ideias e projetos do governo federal. Governadores de diferentes partidos se uniram e se manifestaram em defesa da vida em seus estados, prefeitos criaram consórcios para, na falta de uma coordenação federal, atuarem conjuntamente no enfrentamento da pandemia.

A CPI da Covid apura responsabilidades por mortes evitáveis na pandemia, a partir das omissões do governo federal, da utilização irregular de verbas destinadas ao combate à pandemia e de outros escândalos envolvendo processos de compra de vacinas.

Nestes processos surgem políticos sérios, de diferentes partidos, mostrando compromisso com o público.

A política não é ingênua, e os políticos não são santos, mas há aqueles que defendem o interesse público. Existe uma beleza que fascina na política, quando exercida pelo bem comum. Assim como existe um desprezo quando se percebe o interesse pessoal e privado como motivação. Convivemos ainda com a cumplicidade dos aproximadamente 300 congressistas que apoiam as políticas do governo federal. Cedo ou tarde a conta chegará para estes políticos que ficam à sombra do presidente, liderados por Lira e Pacheco, que sustentam suas políticas irracionais em troca de emendas parlamentares. Em síntese, alugam seu apoio às políticas fúnebres do governo. Serão lembrados e cobrados por isso.

Em outros países as mudanças já estão ocorrendo. O Chile –quem poderia imaginar há um ano?– foi o país com a mais radical transformação: partindo de um presidente conservador, elegeu uma Assembleia Constituinte composta por 50% de mulheres e quase 70% de opositores ao atual governo. O desejo de mudança não está instalado só no Chile e já apareceu de forma irrefutável na Bolívia, Peru e nos EUA, apenas no último ano.

O enfrentamento dos desafios e a busca de soluções no Brasil são de ordem política. O combate adequado à pandemia ou à crise econômica depende fundamentalmente da visão de país, do olhar sobre prioridades, da sensibilidade social e da consciência ambiental, todos relacionados a decisões de natureza política.

A política, portanto, não pode ser desprezada e merece ser valorizada. E isso significa acompanhar os políticos, suas votações e projetos. Significa, nas eleições, aprofundar o conhecimento em relação aos candidatos, identificar o que mais agrada e votar, sempre votar. No Brasil, podem não ser a maioria, mas há muitos políticos sérios. Cabe a cada um de nós estar atentos e acompanhá-los desde já, pois neste exato momento estão sendo debatidas matérias que marcarão o futuro do país.

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