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Coordenador geral do Instituto Cidades Sustentáveis, organização realizadora da Rede Nossa São Paulo e do Programa Cidades Sustentáveis.

Sinais exteriores de uma frágil democracia

Pesquisa revela deficit de memória, desalinhamento de prioridades e desprezo à participação em relação à política

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Políticos deveriam ser lembrados como artistas, atores e atrizes: o nome na ponta da língua. Pois, idealmente, eles deveriam nos remeter ao bem comum e a coisas boas. Só que não! A realidade não funciona assim.

Sete em cada dez brasileiros não lembram para quem votaram nos cargos de deputado e senador nas eleições de 2018. É muito pouco tempo para tamanho esquecimento, um sinal da distância que separa a sociedade da política. É o que mostra a mais recente pesquisa sobre democracia, realizada pelo IPEC para o Instituto Cidades Sustentáveis. O desprezo, na maioria dos casos, vem acompanhado do esquecimento.

Sete em cada dez eleitores não se lembram em quem votaram para deputado e senador nas eleições de 2018 - Rubens Cavallari - 22.ago.22/Folhapress

A política não deveria ser objeto de interesse somente nos anos de eleição, mas cuidada e estimulada regularmente. A desconexão entre as pessoas e a política tem muito a ver com o desinteresse em acompanhar a atuação dos políticos ao longo de seu mandato e a falta de espaços de participação. Ao não lembrar em quem votou, a maioria da população assina um cheque em branco e autoriza que os eleitos avancem sem serem cobrados, o que enfraquece a democracia e estimula a ascensão de oportunistas com plataformas irreais. Afinal, eles apostam que suas promessas não serão cobradas.

Outro achado da pesquisa é que a geração de empregos, seguida pela redução das desigualdades sociais, são vistas como deveres prioritários dos políticos. Aqui, aparece de maneira inequívoca o tamanho da crise econômica que vivemos. A expectativa é de um Estado indutor da economia.

A queda do PIB nos últimos anos, acompanhada do aumento do desemprego, da precarização do trabalho, da pobreza e de pessoas em situação de fome, é tema de responsabilidade da política. Há, portanto, uma grande expectativa de que a política entregue melhores condições de vida para a maioria da população, o que não vem ocorrendo.

Por fim, mesmo responsabilizando a política por questões tão fundamentais, a grande maioria dos entrevistados, 76%, dizem não ter nenhuma vontade de participar da vida política do país, contra 9% com muita vontade.

A democracia é um sistema imperfeito, em mudança permanente. Do ponto vista institucional, vivemos momentos de estresse, em que a corda está sendo puxada ao limite. O atual governo, ao dominar a PGR e a presidência da Câmara, blinda-se em relação à sociedade. E, além disso, ao fazer nomeações de amigos ao STF, expõe imperfeições institucionais que devem ser corrigidas para que os contrapesos do sistema possam funcionar. Nestes episódios há desafios de mudança que as próprias instituições devem assumir.

A pesquisa revela assuntos da maior relevância quando pensamos na relação com a sociedade, ao tratar da memória, prioridades e participação. Quanto mais distante e desinteressada da política a sociedade estiver, mais tempo levaremos para que o país consiga amadurecer e proporcionar melhor qualidade de vida para a população.

A pesquisa pode ser encarada como recomendações para que a democracia promova benefício real para as pessoas e crie espaços de participação para que, até por isso, seja defendida pela maioria. Entretanto, se seguir não gerando melhoria de vida, aumentarão os riscos de seu questionamento por aventureiros que queiram se beneficiar das imperfeições a ela inerentes. Cabe a cada um de nós, pelo voto, mas também pela atenção contínua e participação, contribuir para o aperfeiçoamento do sistema democrático.

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