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Engenheiro e jornalista, foi repórter, correspondente, editor e secretário de Redação na Folha, onde trabalha desde 1991. É ombudsman

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Folha, de repente, vira Folhão

Concorrente adota impresso menor e se prepara para disputa de cisnes

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Houve tempo em que a Folha pretendia ser o Folhão. Além da mudança de gênero, uma maciça campanha publicitária tentava forçar o aumentativo que sempre foi prerrogativa de seu principal rival em São Paulo, o Estadão. A ideia era mostrar já no nome que a Folha era o maior jornal do país. Tempos de fascículos, rodagens históricas e muito papel.

Décadas e uma revolução digital mais tarde, a Folha continua a Folha, e o Estadão, o Estadão. A primeira dizendo-se líder nacional, título ora contestado por O Globo, o segundo nomeando-se líder na capital paulista. Folhão, por alguns anos, restou como apelido de um boteco que ficava aberto até a madrugada em frente ao prédio do jornal.

Desde o último domingo (17), no entanto, é possível reviver o slogan com os dois impressos na mão: a Folha, em formato standard, virou um Folhão perto de um Estadinho. Brincadeira à parte, um Estado com páginas 30% menores.

O produto do concorrente não é um tabloide; este, equivalente à metade do standard, é o formato que a Folha usa em alguns especiais e suplementos publicitários. A opção do rival é o chamado berliner, que tem a página menor, mas mantém as proporções do jornal convencional. É um passo dado há tempos por diários na Europa e nos EUA, um jeito elegante de cortar papel e custos.

O jornal ficou leve. "Pela primeira vez está mais leve e mais claro que a Folha. É algo notável", diz Marcio Freitas, responsável pela direção de arte nas últimas reformas gráficas da Folha no site e no impresso. "Está confortável de ler, mas essa leveza tira a sobriedade da notícia, o que é muito curioso em se tratando de um diário que sempre foi mais sisudo."

Márcio fala do aspecto visual, mas sua sentença cabe como uma luva na edição de quinta (21), quando os impressos tinham a obrigação de fazer o registro histórico do relatório final da CPI da Covid. O Estado apresentou uma página e meia de texto, ou algo equivalente a uma página standard. A Folha trouxe seis vezes isso, incluindo um grande infográfico. Uma inversão e tanto para uma geração que se lembra de um Estadão pesado, quando ele fazia jus ao nome, com classificados gigantes e vários cadernos.

Faz sentido investir em um produto que no mundo todo definha diante de uma mídia eletrônica cada vez mais pulverizada, que espirra notícias em telas de celulares, elevadores e geladeiras? O Estadão diz que sim ao renovar o jornal impresso para seu conjunto mais importante de assinantes. Na Folha, há meses leitoras e leitores buscam o ombudsman para reclamar de assinaturas de impresso descontinuadas em diversas regiões do país --o jornal põe a culpa na pandemia, mas diz que foram impactados apenas 4% do total de assinantes. O contingente ainda está considerável: 55 mil exemplares impressos numa circulação média diária de quase 360 mil, segundo a Secretaria de Redação.

Tudo indica que seja uma corrida de cisnes, disputando quem solta o mais belo canto antes de perecer, mas há quem ainda insista em nadar contra a corrente.

O exemplo mais recente foi dado pelo britânico The Guardian, que há um mês lançou uma revista semanal, Saturday, com mais de cem páginas e muita coisa para ler, de entrevista de prêmio Nobel a futilidades como playlists de famosos. O primeiro número tinha Greta Thumberg na capa, com um líquido como petróleo escorrendo por sua cabeça.

O jornal já ofertava um semanário impresso, The Guardian Weekly, que traz notícias e artigos selecionados da semana e palavras cruzadas. Sobra papel? Longe disso. A edição diária do Guardian já foi standard, já foi berliner, seu melhor projeto, e há alguns anos, ao terceirizar a impressão para cortar custos, virou tabloide.

Jornal bom é bom em qualquer tamanho ou plataforma.

O som do silêncio

Leitores escrevem ao ombudsman para indagar sobre a saída de Sueli Carneiro do renovado conselho editorial da Folha antes mesmo da primeira reunião do grupo, no começo deste mês. No relato do encontro, publicado em 6 de outubro, um sucinto último parágrafo informa que a escritora, filósofa e ativista antirracismo deixou o conselho no mesmo dia, a pedido.

A pergunta óbvia é se a saída tem a ver com a polêmica em torno da coluna de Leandro Narloch, objeto desta coluna há três semanas. Perguntei se a Secretaria de Redação gostaria de dar mais detalhes do ocorrido. A resposta foi que não haveria nada a acrescentar ao já dito na reportagem, que alterações são comuns e que o conselho, desde sua criação em 1978, já teve 34 formações diferentes; duas modificações no time mais recente.

Como escreveu Andre Degenszajn, do Instituto Ibirapitanga, em artigo no Tendências / Debates, o "silêncio institucional da Folha é posicionamento e produz efeitos".

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