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Engenheiro e jornalista, foi repórter, correspondente, editor e secretário de Redação na Folha, onde trabalha desde 1991. É ombudsman

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Acabou! Acabou! Acabou?

Na reta final, jornalismo da Folha se impõe na cobertura das eleições

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Era para ser uma campanha violenta. Para não deixar dúvidas sobre o assunto, Roberto Jefferson resolveu soltar granadas e tiros de fuzil na Polícia Federal. Era para ter golpe, e o risco continua à espreita até segunda ordem (após quatro anos de tumulto, não dá para confiar em um "quem tiver mais voto leva" dito depois do debate derradeiro). Era também para ser um tsunami de fake news, e o país se afoga nelas.

Era para ser a eleição onde a imprensa profissional ficaria obliterada pelas redes sociais. Ainda não foi desta vez.

Em um espaço de dias, a cobertura da Folha, que vinha entre altos e baixos e limitações consideráveis, não muito diferente das de seus principais concorrentes, emplacou duas reportagens que afetaram as corridas eleitorais mais importantes do segundo turno.

Na disputa nacional, um plano de Paulo Guedes para mexer na correção de salário mínimo e aposentadorias após as eleições, que torpedeou a campanha de Jair Bolsonaro em parte sensível de seu casco. Na esfera estadual, o relato sobre um segurança de Tarcísio de Freitas, que, de maneira insólita, pressionou um cinegrafista da Jovem Pan a apagar imagens captadas no tiroteio em Paraisópolis. Além de uma morte, restam agora muitas questões a serem elucidadas.

A primeira reportagem cresceu. Publicada de forma protocolar pela Folha em dia de pesquisa presidencial, teve destaque aquém de seu potencial na largada, mas virou uma paulada contra Jair Bolsonaro no noticiário, nas redes e na propaganda eleitoral. A ponto de solapar a cansativa pauta de costumes. Já a matéria sobre a equipe de Tarcísio nasceu grande. Truculência de agentes, destruição de provas e uma constrangedora situação jornalística. Foi um dos principais assuntos do debate entre os candidatos a governador em São Paulo, na quinta-feira (27), sem falar na avalanche de especulações.

Duas histórias que expõem não apenas fatos, mas as entranhas do bolsonarismo e suas fragilidades. O quanto afetarão as urnas neste domingo (30) é outra discussão. Importa terem saído de um ecossistema que ora parecia impotente diante de uma enxurrada de noticiário desviante, característico de coberturas eleitorais; ora era percebido enviesado, notadamente após os editoriais de Primeira Página, vistos como antipetistas ou confortáveis ao bolsonarismo. Alguém verá equilíbrio forçado.

É como se a Folha tivesse se tornado passageira de seu próprio jornalismo, que desperta com vigor nesta reta final das eleições, as mais complicadas em décadas. Oportuno, pois nada indica que a confusão terminará com a apuração das urnas ou mesmo com a posse de quem quer que seja.

Os que votam

A Folha tem dezenas de colunistas, mas poucos foram os que não declararam voto nesta corrida eleitoral. Alguns ainda pediram apoio a determinado candidato ou candidata; outros usaram mais de uma coluna para defender e reiterar suas preferências. Apenas um recusou a prática e gastou seu espaço semanal para explicar as razões, Demétrio Magnoli. Para ele, declarar voto é fazer publicidade de "um produto do mercado da política".

Para quem acompanha a Folha há mais tempo é algo certamente inédito. Nunca antes na história deste jornal tantos remaram na mesma direção e com tamanha convicção. Pelo menos não em períodos comparáveis, após a redemocratização. A responsabilidade de Bolsonaro é óbvia. O conjunto da obra do atual mandatário é por demais pesado, tornando complexa a tarefa de manter a opinião dentro das quatro linhas do equilíbrio jornalístico. Persistindo na metáfora futebolística, a coisa está mais para bola no mato porque o jogo é de campeonato.

Alguns leitores reclamam, não muitos. Um deles cutuca e questiona se a Folha não vai dar direito de resposta ao presidente, como o TSE fez com a Jovem Pan em relação a Luiz Inácio Lula da Silva. Outros pedem que colunistas de Esporte e Comida, por exemplo, se atenham a seus temas afins.

O Manual da Redação prevê alguma sobriedade ao afirmar que "colunas e blogs não são espaço apropriado para veicular interesses pessoais, informes comerciais, propaganda partidária ou campanha eleitoral" (págs. 89 e 90).

Indagada sobre o movimento, a Direção de Redação se pronunciou: "As colunas de opinião na Folha deveriam privilegiar a discussão sustentada de ideias. Esse nobre objetivo fica prejudicado, e o debate, empobrecido, quando os titulares se desviam desse caminho, por vezes reiteradamente, para tratar de idiossincrasias como sua preferência eleitoral".

Curiosamente também neste ponto o jornal parece passageiro. Desta vez, do conjunto de opiniões que achou por bem reunir em nome da pluralidade que sempre advogou. E o time rema para indicar que o momento vivido pelo país é absolutamente excepcional.

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