Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.
Antes festejada, convocação da seleção vira estorvo para o clube
CBF não segue o que se faz no mundo civilizado e não interrompe seus torneios
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A raiz do problema é muita clara: a CBF não respeita o que se faz no mundo civilizado do futebol ao não parar seus torneios quando a seleção se reúne para jogar nas datas Fifa. É fácil imaginar a preguiça da rara leitora e do raro leitor ao ler a abertura da coluna. Não é difícil imaginar a do colunista ao escrevê-la.
Antigamente, e bote antigamente nisso, torcedores, jogadores e clubes soltavam fogos com a lista de convocados, encarada como prêmios à excelência. Hoje, com três jogadores nela, o Flamengo reclama.
Ninguém põe em dúvida o acerto em chamar Everton Ribeiro, Bruno Henrique e Gabigol. O primeiro pela possibilidade de a seleção encontrar o articulador que tanta falta tem lhe feito, alguém que possa desempenhar o papel de Renato Augusto nos primeiros tempos de Tite.
O segundo é o jogador brasileiro de melhor desempenho nos últimos tempos e não apenas entre os em atividade no país. Gabigol, embora ainda não provado com a amarelinha, é quem melhor finaliza entre os atacantes nacionais.
Cabia, certamente, a convocação de Gerson, algo que acontecerá mais cedo ou mais tarde.
Em vez de motivo para orgulho rubro-negro, vê-se infelicidade nos corredores e salas refrigeradas da Gávea. Mesmo que a ausência do trio se restrinja a um jogo miserável, contra o Boavista, pelo Carioquinha, em data simbólica: 1º de abril. Porque a questão não é essa.
A questão é o Carioquinha em si, como o Paulistinha, o Gauchinho e etc, cujas existências impedem a obediência às...datas Fifa.
Como retaliação, o Flamengo ameaça cobrar da CBF os dias de seus profissionais dedicados à seleção.
Ameaça feita outras vezes por outros clubes e jamais materializada. E a questão também nem é essa, está no estorvo em que a seleção se transformou.
Distante do torcedor raiz, muito mais interessado nas conquistas do seu clube, a grife pentacampeã mundial é cada vez mais curtida apenas pelos chamados torcedores nutella, os que vão não aos estádios, mas às arenas, para tirar selfies e cantar “euuuu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amoooor”, refrão mais para canção de ninar, nada estimulante, cujo origem é controversa e popularizada no século passado, por comercial de sandálias.
De resto, para enfrentar a Bolívia, no Recife, e o Peru, em Lima, nos próximos dias 27 e 31, dá para apostar em Ederson, Daniel Alves, Thiago Silva, Marquinhos e Renan Lodi; Casemiro, Arthur e Everton Ribeiro; Bruno Henrique, Gabigol e Neymar, se até lá não acontecer nada com ele.
Verdade que do meio de campo para frente é possível pensar em inúmeras variações. Tem muita gente indignada ainda com a insistência nos veteranos Daniel Alves e Thiago Silva, por ver neles chorosos retratos de derrotas doloridas, preço a pagar pelos veteranos.
O melhor da convocação acabou por conta da pergunta do repórter Rodrigo Mattos sobre o conflito de interesses vivido pelo diretor de seleções, e empresário, Juninho Paulista.
O pior não surpreendeu na resposta evasiva, constrangedora, burocrática. Em vez de esclarecer, deixou candente a situação eticamente deplorável do cartolinha, capaz de lembrar os piores momentos de entrevistas na CBF com a presença, à mesa, de Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero.
O beneficiado pelo “golpe Caboclo” primou pela ausência. O mofo cobre a “nova” CBF.
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