Siga a folha

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

Raí, a voz do Brasil na França

Campeão mundial de futebol é também craque da cidadania e da arte de escrever

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Não confunda Raí, a voz do Brasil, com RAI, a emissora pública italiana. Nem muito menos com a EBC, a empresa brasileira que deveria ser pública e é apenas porta-voz do governo genocida.

No último dia 12 de maio, o ex-capitão da seleção brasileira tetracampeã mundial, do São Paulo, por quem também ganhou o Mundial de Clubes, e do Paris Saint-Germain, onde foi eleito, em 2020, o maior ídolo da história do clube —uma proeza em se tratando de estrangeiro na França—, publicou artigo no jornal Le Monde, de enorme repercussão, no Brasil e fora.

Raí se apropriou do célebre livro “A Peste”, do escritor franco-argelino Albert Camus. “Devemos resistir a essa praga brasileira que veste uma fantasia escura” é o título do artigo.

Raí é um cidadão com C maiúsculo - Greg Salibian - 8.dez.18/Folhapress

Um trecho: “Além da ‘Peste’ biológica, epidemia pessimamente gerida, causadora da maior crise sanitária da história do Brasil, temos outro mal, que no longo prazo pode deixar terríveis sequelas ainda mais profundas. A peste antidiplomática que nos isola, a peste que corrói a Amazônia, o meio ambiente e persegue os que a protegem, o mal que distancia a vigilância e permite passar a boiada, aceita garimpos em reservas indígenas, que prefere troncos deitados a vê-los em pé, vivos, pragas cúmplices dos responsáveis por estes crimes. Também a peste que castra liberdades, ameaça a democracia e resgata a censura, a peste preconceituosa que promove a intolerância, a homofobia, o machismo e a violência”.

Outro: “‘O Brasil acima de tudo e Deus acima de todos’. Este era o slogan da última campanha presidencial, esta que acompanhou a vitória do inominável. Alguns de nós já imaginávamos que por detrás destas palavras se escondia a carne do mal coberta pela fake pele de um fake salvador da pátria, uma clara tentativa de iludir cidadãos de boa-fé, evangélicos, fiéis e crentes de Deus, já feridos e traídos em sua cidadania, querendo fazer crer que toda e qualquer atitude de seu governo segue princípios divinos. Pois me diga, que Deus seria este que destrói e coloca a vida humana em um plano tão desprezível?”.

E o encerramento: “Porque não basta identificar o sequenciamento do vírus que nos impõe suas leis e viola nossos direitos, devemos agora encontrar o antídoto. Vacina sim! Ele não! Ele nunca mais! Fora, Bolsonaro! Caso contrário, nós nos tornaremos a nossa própria peste”.

Raí foi ouvido pelo programa “Entre Vistas”, da TVT, que irá ao ar nesta quinta-feira (27), tanto no YouTube como no Facebook da emissora e no canal 44.1 na TV aberta.

Questionado se o texto era resultado de um transbordamento de sua indignação, Raí, que compõe a chamada Santíssima Trindade Tricolor, ao lado de Leônidas da Silva e Rogério Ceni, e sempre teve comportamento moderado, embora firme, concordou. E acrescentou que desde antes da eleição de 2018 ouvia de seus amigos franceses perguntas sobre se nós, brasileiros, não estávamos percebendo o perigo representado pelo também ex-capitão praticamente expulso do Exército nacional.

Feliz com o título estadual de seu clube, Raí dá um show na entrevista e confirma a máxima de que “quem sai aos seus não degenera”.

Filho de casal exemplar, seu Raimundo e dona Guió, sempre foi motivo de orgulho do irmão Doutor Sócrates e continua a ser cidadão com C maiúsculo.

A rara leitora e o raro leitor precisam ver.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas