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Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

Corinthians pisou na ideia do Brasil de organizar a Copa do Mundo feminina

Ao contratar Cuca, clube pisoteia causas femininas e luta da sociedade democrática

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A Copa masculina de 2014 agradou o mundo inteiro menos o Brasil, porque gastou-se muito mais do que seria necessário num surto megalomaníaco que redundou na exigência, impossível de ser atingida, do tal padrão Fifa para educação, saúde, transportes públicos pelo país afora.

Agora, com tudo pronto para receber quaisquer torneios de futebol que se pretenda, nada impede que se faça a Copa do Mundo feminina de 2027.

Porque, ao contrário, será passo fundamental para afirmar o futebol de mulheres no berço da Rainha Marta, seis vezes eleita a número 1 do mundo, superada só por Lionel Messi nesse quesito.

Lula sofreu desgaste com a Copa de 2014 e tem a chance de, ao apoiar a diversidade, virar o jogo com a de 2027, embora seu clube de coração acabe de demonstrar nenhum apreço ou respeito à luta das mulheres.

Ao contratar Cuca o Corinthians pisoteia as causas femininas e a luta da sociedade democrática e cidadã contra o machismo tóxico que ainda nos infelicita.

Cuca não cumpriu a pena que lhe foi imposta na Suíça - Douglas Magno - 3.ago.22/AFP

Condenado pela Justiça suíça por ter participado de estupro de menor, Cuca não cumpriu a pena do crime, que prescreveu, e jamais teve a hombridade de se desculpar, embora tenha recebido diversas chances para tal.

O mundo do futebol é enojante.

A Democracia Corinthiana, no início dos anos 1980, serviu para deixar para trás um passado brutal, o período em que o clube foi presidido por Wadih Helu, deputado estadual em São Paulo, pela Arena, o partido da ditadura.

Ele foi o autor do discurso na Assembleia Legislativa que redundou na prisão, tortura e morte do jornalista Vladimir Herzog, em 1975.

Discurso apoiado em aparte por José Maria Marin, que viria a ser presidente da CBF no lugar do banido Ricardo Teixeira, banimento que também o atingiu depois de ser preso no escândalo do Fifagate.

Sócrates, Casagrande e Wladimir encaminharam o Corinthians para novos tempos, com o respaldo do então diretor de futebol Adilson Monteiro Alves.

Este viria a perder-se em seguida, entorpecido pela fama e dividido entre ser diretor de árbitros da Federação Paulista de Futebol, deputado estadual pelo PMDB, secretário da Cultura de curta duração do governo Fleury e empresário de bingo. Sócrates morreu rompido com ele.

Eis que coube a seu filho Duilio, no clube que faz campanha "Respeita as minas", trazer Cuca para dar jeito no time envelhecido que ele mesmo montou.

Democracia encaminhou o Corinthians a novos tempos - Jorge Araújo - 14.dez.83/Folhapress

Se dará certo dentro de campo ou não é o que menos importa porque já deu errado na sociedade brasileira, indignada com tamanha incoerência.

Da Democracia Corinthiana ao "Desrespeito às Minas" passaram-se 40 anos, e, se o movimento no século 20 iluminou novos caminhos, o atual procedimento mergulha o alvinegro no obscurantismo.

Quarenta anos não são nada quando se pensa em História com H.

Treze, então, nem se fala.

Pois são 13 os anos que separam a Copa do Mundo dos homens no Brasil da pretendida pelas mulheres.

Organizá-la suscitará saudável protagonismo ao ainda incipiente, embora de grande qualidade, futebol feminino brasileiro, assim como o apoio à diversidade permitirá discutir o machismo atávico de que todos padecemos.

Quando se vê um clube de raízes populares fazer tábula rasa diante de tamanha violência contra a mulher, fica evidente como estamos atrasados.

O Maracanã será o palco ideal para a abertura, até para que Itaquera seja dispensada de desempenhar nova encenação hipócrita.

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