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Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

A marca da cal arruinada

Agora não é só o goleiro que tem medo diante do pênalti; o gramado também sofre

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"O Medo do Goleiro Diante do Pênalti" é o título do livro do austríaco Peter Handke que virou filme homônimo sob a direção do alemão Wim Wenders.

E que serviu para discutir temas como a incomunicabilidade na sociedade moderna, além de despertar estudos sobre como evitar que pênaltis se transformem em gols, nem de longe objeto do livro ou do filme.
Mas tema desta coluna, por motivos óbvios (só tratamos de futebol…), ainda mais depois da epopeia do 9 a 8 no Beira-Rio —que classificou o Inter e eliminou o favorito River Plate da Libertadores.


Fazia tempo que 90 minutos de futebol não causavam tamanha gangorra emocional na vida do torcedor. Felizmente, desta vez, com desfecho justo.

Para começar porque houve pênalti claríssimo para o Colorado não observado pela arbitragem.

A continuar pelo 2 a 0 arrancado a fórceps pelos gaúchos que garantiria a classificação no tempo normal, possibilidade frustrada no último minuto, diante de 50.479 torcedores, recorde de público no estádio desde sua reinauguração, em 2014, para sediar a Copa do Mundo.

Lance de Internacional 2 (9) x (8) 1 River Plate, no Beira-Rio - Nelson Almeida/AFP


Disputas da marca do pênalti em casa pressionam mais os anfitriões que os visitantes, além de, no caso, ter representado a sobrevida para os argentinos no instante derradeiro. Era de se supor superioridade emocional entre os portenhos, que tinham sido golpeados pelo primeiro gol do Inter, marcado por Gabriel Mercado, ídolo do clube, campeão da Libertadores de 2015.

Ninguém errava cobrança alguma quando a SÉTIMA dos Milionários, bem-sucedida, foi fruto de escorregão do batedor. O atacante Solari teria tocado com os dois pés na bola, segundo imediata reclamação do goleiro uruguaio do Colorado, Sergio Rochet. Depois de intermináveis três minutos, o VAR anulou a cobrança.

Estava posta a chance para outro uruguaio, o meia Carlos de Pena, desempatar a decisão e dar o xeque-mate. Desgraçadamente a bola encontrou a trave e despejou uma cachoeira de água gelada à beira-rio: 6 a 6!

Vida que segue, drama que segue, Recomeçaram as cobranças, que só terminariam quando um dos times obtivesse a vantagem.

E vieram as sextas, as sétimas, as oitavas e as nonas cobranças de cada time.

Certeiras, 8 a 8, sem que nenhum dos goleiros conseguisse defender, de um lado Rochet, da seleção uruguaia, do outro Franco Armani, campeão, como titular, da Copa América de 2021, no Maracanã, pela Argentina, e da Copa do Mundo, no Qatar, em 2022, na reserva, único jogador que atua em seu país entre os convocados.

Então aconteceu o lance raro, como as leitoras e leitores da coluna: a marca da cal estava arruinada, impraticável para a sequência das batidas.

Jogadores do Internacional festejam a classificação - Nelson Almeida/AFP

O apitador determinou a mudança para a outra área, tamanho o buraco no gramado brasileiro.

O drama mudou de lado.

O zagueiro Rojas, do River, o herói saído do banco para fazer o 1 a 2 no derradeiro minuto, cobrou o 10° penal no travessão e virou vilão.

Rochet, sem uma defesa sequer, chamou a responsabilidade para si e deve ter pensado: "Não aguento mais me sentir como diante de pelotão de fuzilamento. Vou acabar com esta angústia". Acabou.

Bateu de um lado, Armani voou por outro, e classificou o Inter.

A explosão de alívio tomou conta de meio Rio Grande do Sul.

Acredite: até Armani se aliviou.

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