Ninguém exigia que a seleção brasileira voltasse campeã mundial da Oceania.
Como ninguém imaginava a eliminação ainda na fase de grupos.
Perder para a França até estava no horizonte, mas empatar com a Jamaica era impensável.
A eliminação precoce faz pensar e exige reformulação.
Há tempos já se constatava o pragmatismo exagerado na forma de jogar do time ao abdicar do jeito brasileiro de ser.
Por mais que o discurso de Pia Sundhage fosse o de exaltar o futebol bonito, a prática a desmentia.
O 0 a 0 com a Jamaica, país de menos de 3 milhões de habitantes, valeu como soco no estômago tão forte como o 1 a 1 com a Croácia.
A incapacidade das jogadoras em driblar as dificuldades impostas pela retranca caribenha, a ansiedade desde o primeiro minuto do jogo, os erros de passes e finalizações, ficaram muito além do que se vê nos jogos do Campeonato Brasileiro —embora perder gols venha se tornando uma constante também entre os homens, o que pode ser atribuído ao calendário massacrante que impede o treinamento dos fundamentos básicos do jogo.
Chega a ser ironia constatar que em Copas outras nas quais o respaldo da CBF era quase só para constar houve desempenhos muito melhores.
É evidente que todos evoluíram, que houve surpresas nos embates entre seleções menos cotadas contra favoritas, mas, convenhamos, as brasileiras exageraram, passaram dos limites de maneira exasperante e produziram, além de tristeza, funda decepção.
A Rainha Marta merecia despedida à altura de sua grandeza e, em vez disso, a vimos como leoa ferida, impotente e aprisionada em esquema tático incompatível com a criatividade.
Há momentos que exigem coragem até para mandar às favas rigores incompatíveis com nossas origens e para desrespeitar ordens absurdas.
Cada vez mais o Planeta Bola olha para a camisa amarela, ou azul, e a vê apenas como mais uma. Não como a que tem cinco estrelas, atualmente meros adereços ou, no máximo, hieróglifos a lembrar de um tempo perdido nas brumas de passado longínquo e irrecuperável. Vamos mal.
O DE SEMPRE
O Ministério do Esporte passou a ser objeto de desejo dos políticos que agora somam à capilaridade do órgão o dinheiro que passará a receber dos impostos sobre as casas de apostas.
Não bastasse, o submundo da cartolagem se insurge contra medida que visa garantir o bom uso dos recursos públicos destinados às entidades esportivas.
Acostumados a viver em terra de ninguém, os cartolas não aprenderam com as lições dadas por todos aqueles banidos do esporte e complicados com a Justiça. E sabotam os esforços fiscalizadores que visam fazer os recursos chegarem aos atletas.
Ao alegar intromissão governamental, inventam ameaças como se o Brasil fosse ser excluído de competições internacionais, argumento tão velho como o perigo comunista.
Recalcitrantes, repelem o rigor na fiscalização e o voto dos atletas, porque comitês, como o dos clubes sociais, vivem de cobrar taxas de seus associados para que estes possam, adiante, se beneficiar do dinheiro público que o CBC distribui —e que acabam empregados, no mais das vezes, em melhorias para os sócios, não para atletas.
A ministra Ana Moser é o alvo da vez.
Por ser mulher, por não ter filiação partidária e por ser obstinada em pensar e fazer do esporte meio de integração social.
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