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Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

O melhor lugar para ver as Olimpíadas

Todo artista tem de ir aonde o povo está, diz Milton Nascimento; e o jornalista?

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Todo jornalista tem de ir aonde a notícia está e para o jornalista que cobre esportes a notícia está em Paris.

E aquele que não está, como este que vos escreve?

Bem, ele senta em frente à TV e vê os Jogos como seria impossível ver se lá estivesse.

Jogo do contente? Faz de conta que não estou nem aí? Inveja dos que estão em Paris?

Não!

Quer dizer, sim. Ou melhor, talvez.

Vamos por partes.

Público acompanha partida de vôlei de praia - REUTERS

De corpo presente, ou o popular in loco, estive em apenas três Olimpíadas e fui feliz nelas —embora na primeira, em Barcelona-1992, tenha ido mais a passeio, com a única missão de, na volta, escrever reportagem para Playboy sobre os bastidores da cobertura.

Como trabalhava também para a Rede Globo, além da Editora Abril, enfurnei-me no centro de imprensa e passei lá, vendo tudo, todos os dias, com enorme satisfação.

A cidade parecia ter treinado para receber o mundo e quis mostrar como pulsava a Catalunha sem o horror da ditadura franquista.

Foram dias rigorosamente sem nenhum percalço, clima permanente de festa.

Até hoje ouço a dupla Sarah Brightman e José Carreras cantando "Amigos Para Sempre", na cerimônia de encerramento.

Entre Barcelona-92 e Londres-2012 transcorreram 20 anos e na capital inglesa me dei conta de que se tivesse ficado em casa veria as Olimpíadas muito melhor.

Escalado para cobrir a seleção masculina de futebol, passei boa parte do tempo dentro de trens para Cardiff, no País de Gales, Manchester e Newcastle, porque só a finalíssima aconteceu no estádio de Wembley. E o Brasil perdeu para o México…

No máximo consegui ver quase todos os jogos da seleção feminina de vôlei, dois jogos da seleção masculina de basquete e uma prova de natação, de onde acabei expulso porque sem credencial.

Verdade que vi Zé Roberto Guimarães ganhar mais uma medalha de ouro, como havia visto com o time masculino em 1992.

A experiência na Rio-2016 foi parecida.

Outra vez atrás da seleção de futebol, só troquei o trem por avião, com óbvia desvantagem: Brasília, Salvador, São Paulo, apenas a semifinal e a final foram no Maracanã, quando, nos pênaltis, contra a Alemanha, enfim o futebol ganhou o ouro e dei por fim a obsessão de testemunhar a conquista que faltava à seleção.

Menos mal que ainda deu para ver Usain Bolt no Engenhão e a final do vôlei masculino entre Brasil e Itália, com ouro para os rapazes.

Tudo isso para dizer que a rara leitora e o raro leitor estão lendo, se chegaram até aqui, mal traçadas linhas escritas por um zumbi tresnoitado e redundante.

Ando esquecido de meu ofício e acordo às quatro da matina para não perder nada do que acontece em Paris.

Aflito com os riscos do skate, enamorado pelas ginastas, frustrado com o handebol e o futebol das mulheres, encantado com o tiro com arco, encharcado pela natação, quase um especialista em judô e sem perder um segundo dos estadunidenses no basquete.

A tal ponto que escrever sobre tanta coisa virou uma impossibilidade, egoísta que fiquei ao curtir cada momento e não querer tirar os olhos da tela, ou melhor, das telas, da TV e do tablet, às vezes até do telefone celular.

Como o mundo seria melhor se os países resolvessem suas diferenças nas quadras, nos gramados, nas piscinas e tatames, para não falar das pistas, onde as provas ainda não começaram.

Que venham!

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