Siga a folha

Mestre em Economia Aplicada pela USP, é professora do Insper e foi secretária de Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo

Transferência de renda no Brasil entrega pouco para muitos

Distribuímos R$ 122 bilhões à metade dos brasileiros e, ainda assim, 20% da população vive abaixo da linha de extrema pobreza

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Juntos, os 102 milhões de brasileiros mais pobres, praticamente a metade da população do país, recebeu R$ 122 bilhões a partir da transferência de renda do governo, de acordo com as declarações feitas à Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2022.

Sem dúvida, quanto mais direcionados forem os gastos do governo federal para os grupos de renda mais baixa, maior será o efeito na redução do grau de desigualdade, na distribuição de renda e na diminuição da pobreza do país. Mas já não estamos falando da metade mais pobre? Afinal, esses gastos não estão focalizados?

Dos R$ 122 bilhões transferidos, 58% não são direcionados aos que estão abaixo da linha de extrema pobreza - Roberta Aline/MDS

Focalização significa adotar algum critério de priorização na concessão de benefícios. Significa dizer que a transferência de renda só será concedida a um indivíduo quando todos os outros mais vulneráveis do que ele já tiverem sido agraciados.

Esse processo envolve adotar uma priorização e persegui-la. Considerando nosso grau altíssimo de pobreza e de desigualdade, é difícil pedir paciência e espera aos que serão beneficiados só em um segundo momento.

Assim como o SUS (Sistema Único de Saúde) gerencia todos os dias as vagas para a realização de procedimentos cirúrgicos, organizar uma fila não é uma tarefa fácil, muito menos agregadora de votos.

O SUS diariamente pede a um paciente que aguarde sua vez na fila enquanto outros em situação mais grave são atendidos, mesmo assim tem gratidão e respeito da população. O que acontece quando não optamos pelo caminho da priorização e organização em um sistema de filas?

Hoje, distribuímos R$ 122 bilhões à metade dos brasileiros e, ainda assim, 20% da população vive abaixo da linha de extrema pobreza, conforme critérios do Banco Mundial. De todo esse montante desembolsado anualmente, 58% (R$ 71 bilhões) não são direcionados aos que estão abaixo da linha de extrema pobreza.

Os nossos programas de transferência de renda optam por entregar um pouco de recurso a muitas pessoas, portanto, os casos mais graves, com pouco socorro, se mantêm em situação de extrema vulnerabilidade.

Já temos orçamento e capilaridade suficiente para que nenhum brasileiro viva com menos de R$ 400 por mês, no entanto, ao optar por entregar pouco para muitos, grande parte da população sobrevive com menos de R$ 400.

Como país, optamos por beneficiar um pouco muitas pessoas e não em erradicar a pobreza.

Uma mudança de curso envolveria a retirada de benefícios de uma parte da população que tem, sim, vulnerabilidades, mas que, no entanto, não está dentro do critério de extrema pobreza. O SUS tem a gratidão e reconhecimento da população, apesar das decisões difíceis que toma todos os dias.

O que esperamos dos nossos R$ 122 bilhões de transferência de renda? Beneficiar um pouco, metade da população, sem focalização? Ou retirar o Brasil do mapa da pobreza extrema?

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas