Siga a folha

Leandro Narloch é jornalista e autor do Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, entre outros.

Falta de diversidade ideológica está emburrecendo a universidade

Equívocos e ideias ruins prosperam se não há ninguém para questioná-los

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Um detalhe passou batido na polêmica de semanas atrás sobre a origem de expressões como "nas coxas" e "criado-mudo". Os equívocos publicados por agências de checagem e portais de notícia eram todos baseados em fontes acadêmicas. Tinham aval de historiadores, doutores em literatura e professores de português.

No portal da CNN Brasil, uma reportagem que reproduz o erro histórico sobre "criado-mudo" é assinada por um pós-doutor em língua portuguesa.

Como esses "especialistas", que consumiram um bom dinheiro público e esforço individual para se diplomarem, puderam errar tanto?

Prédio de reitoria de universidade - Lalo de Almeida/Folhapress

Repare que eles não sentiram necessidade de encontrar fontes históricas de escravos que moldavam telhas de 70 centímetros em suas coxas ou sobre um suposto costume dos senhores de manter criados calados segurando objetos no quarto íntimo.

Erraram porque lhes falta divergência. Há tão pouca diversidade ideológica nas faculdades de humanas que os estudantes passam anos sem serem expostos à opinião contrária. Na bolha em que cursam mestrado e doutorado, não há ninguém para avisá-los quando suas ideias não fazem sentido.

Os incentivos do ambiente acadêmico ajudam a explicar parte dessa homogeneidade. Muitos universitários reclamam que, para serem aceitos no mestrado, precisam estudar o que o orientador estuda, adequar-se às ideias dele e falar o que os avaliadores da banca querem ouvir.

É um ambiente que incentiva a conformidade, não a divergência. Professores mais velhos contratam profissionais com crenças afins, que rezam o mesmo credo –e assim as faculdades de humanas acabam se tornando "igrejas da Justiça Social", como diz o filósofo americano Peter Boghossian.

Para um estudante que tenta emplacar seus estudos em revistas científicas é muito vantajoso aderir a certas narrativas. E desvantajoso demais contrariá-las.

Em 2018, Peter Boghossian, Helen Pluckrose e James Lindsay provaram como é fácil progredir no ambiente acadêmico repetindo jargões identitários. Os três intelectuais escreveram artigos científicos absurdos (mas cheios de clichês politicamente corretos) e os submeteram a revistas científicas.

Vários foram aceitos. Um deles, "The Conceptual Penis as a Social Construct", afirmava que o pênis é na verdade uma construção social que fomenta a masculinidade tóxica e a mudança climática.

Em outro artigo, os autores copiaram trechos de "Minha Luta", de Adolf Hitler, substituindo a palavra "judeus" por "homens", e "alemães" por "mulheres". Conseguiram ser publicados por um periódico de estudos feministas.

A falta de cuidado científico parece pouco relevante no caso dessas pegadinhas ou quando o tema é a origem histórica de palavras.

A coisa complica quando se trata com a mesma displicência análises sobre causas de problemas sociais e alternativas para solucioná-los. Nesse caso, teorias acadêmicas que não foram postas à prova podem inspirar políticas públicas igualmente equivocadas.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas