Siga a folha

Doutora em economia e professora da FGV. Atua como presidente da GeFam (Sociedade de Economia da Família e do Gênero)

Estilos de parentalidade e o bem-estar dos filhos

Estudos indicam que o comportamento dos pais afeta a performance das crianças na escola

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Na escola, eu sempre gostei de história e matemática. Quando chegou a hora de decidir qual curso prestar no vestibular, pensei em seguir uma dessas áreas. Ao discutir minha escolha com minha mãe, ela me perguntou se eu pretendia ser professora e me alertou sobre a baixa valorização da profissão. Isso me deixou em dúvida e comecei a conversar com várias pessoas sobre outros cursos. Acabei optando por economia. Adorei o curso, mas adivinhem? Sou professora. É difícil ir contra a própria vocação.

Quem nunca ouviu uma história parecida com essa? Os pais, em geral, querem guiar seus filhos na direção que acham que será melhor para eles. Muitas de suas decisões são baseadas por amor a seus filhos. Eu não tenho dúvida. Porém, precisamos ter cuidado com os exageros. Matthias Doepke e Fabrizio Zilibotti discutem no livro "Love, Money and Parenting" (amor, dinheiro e parentalidade, em tradução para o português) como estilos parentais diferentes podem afetar o bem-estar das crianças.

O tempo despendido com os filhos cresceu mais entre pais com maior nível de escolaridade - Adobe Stock

Segundo a contribuição seminal de Diana Baumrind, existem três tipos de mães e pais: os autoritários, os permissivos e os autoritativos. No primeiro caso, os pais demandam obediência de seus filhos e exercem controle estrito nas atitudes e no comportamento das crianças. O segundo é o caso oposto em que os pais permitem que seus filhos façam suas próprias escolhas e agem sem impor punições. Já o autoritativo fica no meio dos dois extremos. Os pais buscam influenciar seus filhos e moldar suas escolhas, não por comando e disciplina estritos, e sim de uma forma mais orientada, explicando suas decisões.

Estudos indicam que o comportamento dos pais afeta a performance de seus filhos na escola. Na média, crianças de pais autoritativos apresentam resultados melhores do que crianças de pais autoritários ou permissivos. Por exemplo, pesquisas indicam que jovens ingleses de pais autoritativos não apenas obtêm melhores resultados acadêmicos, mas também apresentam melhores indicadores de saúde e menor propensão a se engajar em comportamentos de risco, tais como, fumar e consumir drogas. No Brasil, 55% dos pais são autoritários, 35% autoritativos e 10% permissivos segundo a World Value Survey (2014). A proporção de pais autoritários no Brasil é bem maior do que a média de países da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que é de 27%.

Doepke e Zilibotti utilizam o termo parentalidade intensiva para descrever pais que combinam elementos do estilo autoritário e autoritativo. Esses pais, conhecidos como "pais-helicóptero", se envolvem de forma intensa nas escolhas e na criação de seus filhos e são mais protetores. Eles tendem a pressionar seus filhos para que busquem um maior desempenho escolar, visando maiores chances de sucesso econômico. A lógica por trás dessa abordagem é que, quanto maior o nível de escolaridade alcançado, maiores serão as chances de sucesso econômico após a graduação.

Esse tipo de parentalidade cresceu nas últimas décadas. O número de horas despendido por mães e pais nos cuidados de seus filhos vêm aumentando. Os dados para os Estados Unidos mostram que, na média, um casal em 1976 despendia 2 horas por semana brincando, lendo e conversando com seus filhos e 17 minutos ajudando na lição de casa. Em 2012, essa interação aumentou para 6 horas e meia e uma hora e meia, respectivamente. O mesmo resultado é encontrado na Itália. Por que houve esse aumento? O tempo despendido com os filhos cresceu mais, em média, entre pais com maior nível de escolaridade. Além disso, dados americanos mostram que quase 40% dos pais com maior nível de escolaridade são autoritativos. Além disso, não podemos desconsiderar que o número de nascimentos vem caindo em muitos países, incluindo o Brasil.

Essa intensificação da parentalidade pode ser benéfica para o sucesso acadêmico, mas pode prejudicar a autonomia dos jovens e reduzir a sua capacidade de lidar com as frustrações. Será então que os pais devem ser menos intensos? Como todo remédio, tudo depende da dose.


Como parte da iniciativa Todas, a Folha presenteia mulheres com três meses de assinatura digital grátis

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas