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É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

Descrição de chapéu Governo Biden Rússia

Biden e Putin levam de Genebra os resultados modestos que esperavam

Os dois velhos conhecidos conseguiram o que queriam

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Nenhuma surpresa em Genebra. Os dois velhos conhecidos conseguiram o que queriam. Concordaram sobre o quanto discordam e agora é esperar os resultados.

Joe Biden precisava baixar a temperatura com Vladimir Putin para se concentrar melhor na China e na intratável oposição republicana à sua agenda doméstica. Putin precisava se mostrar relevante em casa para concorrer ao quinto mandato.

Putin saiu dizendo que a reunião foi eficaz e específica. Biden disse que nada substitui o encontro cara a cara, mas deixou claro que não acredita no ex-agente da KGB que enrola interlocutores americanos há 21 anos. É puro negócio, autointeresse, disse.

Os presidentes de Rússia, Vladimir Putin, e EUA, Joe Biden, cumprimentam-se antes de cúpula em Genebra, na Suíça - Saul Loeb/AFP

Putin foi o primeiro a falar, numa entrevista coletiva que ele estendeu com prazer evidente, "troll" profissional que é: rebateu todas as perguntas sobre Alexei Navalni sem, como sempre, pronunciar o nome do dissidente preso que ele tentou assassinar, fazendo referências a problemas domésticos dos EUA.

Regurgitando sarcasmo, expressou “simpatia” pela onda de protestos raciais e destacou que manifestantes americanos presos vão passar até “20 anos na prisão”.

De concreto, o modesto anúncio sobre o retorno próximo dos respectivos embaixadores a Moscou e Washington. Putin deixou claro na entrevista que não cedeu em nada. Especialmente sobre a repressão a dissidentes e sobre a integridade territorial da Ucrânia, que ele invadiu em 2014, anexando a Crimeia.

Biden avisou que, se continuarem os ataques cibernéticos, especialmente a setores cruciais de infraestrutura, como abastecimento de petróleo, a resposta americana vai ser cibernética.

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E lembrou que os EUA dispõem de tecnologia para infligir dor. Biden rebateu o cinismo de Putin com seu conhecido ar de tiozão e, com evidente condescendência, sugeriu: Putin tem uma fronteira enorme com uma China que busca hegemonia —vai querer comprar a encrenca de uma nova Guerra Fria com os EUA? A pergunta retórica é mais um recado, mas ninguém ficou rico apostando no bom senso de Vladimir.

O fato é que esta é a primeira vez, na história de cúpulas entre Moscou e Washington, que um dos líderes precisa se manter indefinidamente no cargo para continuar vivo. A Rússia pós-soviética é um petroestado controlado por oligarcas, militares e pelo crime organizado. Estima-se que 110 indivíduos sejam donos de 35% da riqueza do país.

Esqueçam os perigosos vizinhos armados do condomínio na Barra, no Rio, ou a loja de chocolates usada como lavanderia, ou mesmo as mixarias exemplificadas por personagens como a Val do Açaí.

O Escritório do Crime que deve mesmo se gabar deste título não fica na zona oeste do Rio, apesar do sucesso de ter plantado uma filial em Brasília. Começou em São Petersburgo, nos anos 1990, e é liderado por quem seria hoje um dos homens mais ricos do mundo.

Vladimir Vladimirovitch Putin só tem em comum com o aspirante a ditador caboclo a origem no baixo clero. Neste caso, o baixo clero da KGB, em que era um espião medíocre. Com a queda do muro de Berlim, Putin, de volta a São Petersburgo, montou a operação no seu Vivendas da Barra, um condomínio chamado Ozero, onde começou a acumular uma fortuna extraordinária com ex-colegas e capangas locais.

Na entrevista coletiva em Genebra, uma repórter americana perguntou a Putin: a lista de inimigos mortos é longa, o que o senhor teme? A resposta sincera deveria ser: são os vivos que me assustam. Não são os dissidentes políticos que salivam para ver Putin desprotegido. São os ladrões que ele roubou.

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