Siga a folha

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

'Veep' chega ao fim em momento em que realidade é pior que sátira política

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

É virtualmente impossível concorrer com a bizarra realidade de governos que toma os noticiários pelo mundo, mas "Veep", a sátira política mais brilhante já levada ao ar, vai cair atirando.

Em sua última temporada, que estreou na HBO no último domingo (31) após um hiato de mais de um ano para sua protagonista se tratar de um câncer, a série que mostra os intestinos do poder continua a cutucar feridas e mesquinharias de eleitores e políticos de todo o espectro.

Verdade que o material fornecido pela política a piadistas, humoristas e comediantes em geral sempre foi farto. É triste, porém, que o que até outro dia tinha registro de comédia do absurdo hoje soe verossímil e até palpável.

O criador Armando Iannucci já deixa as intenções explícitas no primeiro episódio, que tripudia de todo mundo.

Em um momento, com o personagem Jonah (Timothy Simons), um imbecil cuja ambição é inversamente proporcional ao tato, mira a ignorância de um eleitorado masculino, branco e pouco escolarizado da direita que busca um igual para chefiá-lo —igual, inclusive, na pouca qualificação.

Em outro, com o uso inescrupuloso que a eterna vice Selina Meyer (Julia Louis-Dreyfus) faz em sua campanha presidencial da filha lésbica (Sarah Sutherland), da nora indígena (Clea DuVall) e do netinho negro, demole a redoma identitária em que parte considerável da esquerda se alienou.

Vistos assim, com traços carregados, ambos os campos só podem ser resumidos como tolos vulneráveis a populistas. Esses populistas à esquerda e à direita, por sua vez, são representados como idiotas mesquinhos sem nenhum outro senso que não o da autopreservação.

A Selina de Louis-Dreyfus já foi vista como uma espécie de mulher-legenda para candidatos e governantes, com pequenezas e limitações que a blindam da realidade e acabam sempre despejadas em frases cínicas irreprimíveis.

Agora que esses candidatos e governantes já fazem isso sem barreira, via redes sociais e "lives" perpétuas, talvez a graça da vilania da personagem deixe de soar caricata e passe a ser apenas constrangedora —um otimista poderá até achar que Selina sirva para algum tipo de epifania eleitoral do espectador.

De qualquer forma, a Selina de Louis-Dreyfus fará imensa falta na programação quando deixar as telas, após o sétimo episódio desta sétima temporada, em 12 de maio.

Ela, afinal, faz parte daquele pequeno panteão de personagens que resumem épocas e explicam um pedaço da história, embora a história hoje ande um tanto desprestigiada.

Melhor atriz cômica em ação, Louis-Dreyfus, que já tem a personagem Elaine Benes ("Seinfeld") no currículo, tem um timing que faria o escritor britânico Christopher Hitchens rever seu ensaio sobre a inépcia feminina para o humor, se vivo estivesse.

Entregar-se à sua atuação desbragada, secundada por um elenco ultra-afinado (aplausos a Tony Hale e Anna Chlumsky) e texto irrepreensível, é a expiação que nos resta.

“Veep” vai ao ar nas noites de domingo, às 23h35, na HBO

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas