Governo Trump é uma comédia concorrente, afirma roteirista de 'Veep'

Série estreia última temporada neste domingo (31), dois anos após Julia Louis-Dreyfus ser diagnosticada com câncer de mama

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Los Angeles

Em 17 de setembro de 2017, a atriz Julia Louis-Dreyfus recebeu seu sexto Emmy seguido pelo papel da presidente sem-noção Selina Meyer da série “Veep”

Era um domingo. A atriz e a equipe da comédia política da HBO festejaram por toda Hollywood. “Na segunda-feira, às quatro da tarde, recebo um telefonema”, lembra o showrunner David Mandel, em entrevista à Folha. “Julia tinha acabado de ser diagnosticada com câncer.”

Na época com 56 anos, Louis-Dreyfus revelou a Mandel que estava com câncer de mama e, dez dias depois, tornou a notícia pública. “Não consigo imaginar o que ela passou. É câncer, os remédios que podem curar quase matam”, conta o roteirista e produtor da série, que precisou pausar os planos de filmagens da sétima temporada.

“Todas aquelas pessoas [da equipe] ficariam sem receber salários com a interrupção, mas ninguém abriu a boca para falar nada. O objetivo era a recuperação de Julia.”

A atriz começou o tratamento com quimioterapia, mas começou a voltar aos poucos ao trabalho. Primeiramente, participando das leituras de roteiro após alguns meses. “Era uma noite a cada três semanas. Não precisávamos fazer isso, mas queríamos ver Julia e mantê-la seguindo em frente como parte do grupo”, diz Mandel. “Ela estava mais magra e não podíamos abraçá-la para não correr risco de ela se contaminar. Foi difícil.”

Com a pausa, o roteirista ganhou tempo para repensar sétima e última temporada de “Veep”, que estreia neste domingo (31), na HBO, com apenas sete episódios. “Quando Trump foi eleito, já tínhamos escrito toda a sexta temporada, então não conseguimos traçar paralelos. Mas acho que foi bom, pois há coisas que não conseguiríamos superar. Encaro o governo como uma comédia concorrente de ‘Veep’”, compara ele.

O novo ano começa com Selina Meyer iniciando sua nova campanha à Presidência dos Estados Unidos. “Eu deveria ser presidente, porque é minha vez, diabos”, grita a candidata acompanhada do braço direto, Gary Walsh (Tony Hale) no comitê em tour pelo estado do Iowa. 

A cena foi a primeira filmada pela atriz depois da remissão do câncer, em janeiro do ano passado. “Foi quando notamos que tudo estava bem e ela estava saudável”, recorda o executivo, que trabalha com a estrela desde “Seinfeld”.

A série continua apontar os dedos para os políticos, mas ganha um espectro mais amplo ao mirar também os eleitores que ajudaram a colocar aquelas pessoas no poder. “O lado bom do câncer de Julia”, brinca Mandel com Louis-Dreyfus gargalhando em videoconferência direto da Áustria, onde filma o remake de “Força Maior”, “é que me permitiu ficar mais consciente sobre a tempestade que estava transformando nossa política. Nunca havia me desviado por causa da realidade antes.”

A atriz admite que “devido ao clima político, ficou mais difícil superar os limites na série”, mas ressalta como “Veep” não toma partido. 

“Estamos em uma dimensão alternativa e isso é muito útil, principalmente agora. Acho que a série durou tanto tempo exatamente por convidar todo mundo para a festa. Sou uma patriota e estou muito infeliz com nossa atual situação política, mas quero deixar claro que não tem a ver com ‘Veep’. Não sei em quem vou votar em 2020, mas certamente será um democrata.”

Antes disso, o mundo verá o final de uma das séries cômicas mais premiadas dos últimos anos. Mandel revela que orquestrou as filmagens de certa maneira a permitir que a última cena gravada também fosse a última da série. 

“Quando entramos no estúdio, havia 200 pessoas observando pelos monitores. Precisei deixar Julia presa no cenário para não descobrir quanta gente estava ali, porque ela ficaria louca”, diz o showrunner, que planejou o fim desde que assumiu o lugar do criador Armando Iannucci, após a quarta temporada: “Será chocante, engraçado e apropriado.”

Veep
Neste domingo (31), às 23h40, na HBO

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