Siga a folha

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

Descrição de chapéu

Brilhante, 'Years and Years' mostra como somos engolidos por mudanças bruscas no mundo

Populismo, 'uberização' da economia e obsessão por segurança estão na série da HBO

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Está dito no maior compêndio de cinema e TV, o IMDb, que a imperdível minissérie “Years and Years”, exibida pela HBO, é ficção científica. É difícil, porém, ser mais realista do que esta obra do britânico Russell T. Davies para a BBC, que acompanha por mais de uma década uma família de classe média em Manchester.

Talvez a classificação “sci-fi”, aceno à torrente de distopias que abastece a TV nos últimos anos, venha dessa incursão que a minissérie faz pelo futuro imediato. O que importa aqui, no entanto, é menos a previsão de catástrofes e mais nossa incapacidade de freá-las. 

“Years and Years” trata de inevitabilidade, e é angustiante constatar isso frente ao noticiário que municia a série.

Estão ali os líderes populistas em ascensão, a descrença no sistema político que culminou no desprezo pelo estado de direito, a vulnerabilidade que assumimos com a dependência da tecnologia e nossa fragilidade aos solavancos do sistema financeiro.

Em “Years and Years” não há heróis e rebeldes. Ao acompanharmos os Lyon —quatro irmãos adultos, avó, seus filhos e companheiros— assistimos ao nosso desamparo diante de um agora que não conseguimos absorver totalmente.

Eles são a filha ativista que protesta contra o cataclismo climático e a guerra entre potências comerciais, o primogênito que sofre com o colapso do sistema financeiro e se vê obrigado a trocar a careira por cinco subempregos, o filho gay que se apaixona por um refugiado em tempos de ultranacionalismos e a caçula, mãe solo e cadeirante, encantada com o discurso populista tão oco quanto atraente.

Não são temas novos, mas os personagens deixam claro que eles agora confluem de forma inédita desde o fim da Guerra Fria e produzem políticos de discurso talhado para agradar a seu séquito, mesmo que para isso seja necessário espalhar mentiras e ódios.

Aqui, essa figura é Viv Rook (Emma Thompson, arrebatadora). Empresária-celebridade, ela que cria o próprio partido para detonar o modelo político tradicional e se mostra ignorante demais para fazê-lo sem um rastro de erros. Não dá entrevistas, não participa de debates, apenas fala sem parar em seu próprio canal.

Davies, autor de “A Very English Scandal”, é um roteirista hábil que insere a anti-heroína em um cenário no qual Donald Trump, Vladimir Putin e Xi Jinping se perpetuam, e grupos anárquicos derrubam governos e economias.

O problema? O problema é que não soa alegórico. Soa tremendamente presente.

“Years and Years” vai ao ar às sextas, 22h, na HBO e está na HBO Go 

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas