Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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'Chernobyl' chega ao fim na HBO com alerta para o futuro

Série sobre desastre nuclear mostra que grandes falhas humanas vêm recobertas de dogmas

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É um exercício penoso assistir a “Chernobyl”, a minissérie da HBO a respeito do acidente na usina nuclear soviética em 1986 que terá seu último episódio exibido nesta sexta (7).

Não apenas pela forma cruenta com que o desastre e as consequências da radiação espraiada por ele surgem na tela, da pele dos personagens à geopolítica, mas por constatar como a humanidade às vezes falha de forma abjeta, a ponto de tornar um enigma o fato de termos perseverado.

Este último tema reverbera porque não está constrito a um lugar físico e temporal. A União Soviética pode ter implodido de forma melancólica, mas muito do que movia seu primeiro escalão de burocratas, um dos pontos focais da minissérie, existe ainda em governos dos dois lados do Atlântico, no norte e no sul.

É por isso que “Chernobyl” é tão importante para quem tende a esquecer rapidamente o passado ou a não se interessar em aprender sobre ele.

Dramaturgicamente, a série é um primor. Em cinco episódios, conta o acidente do ponto de vista do químico russo Valery Legasov e da física bielorrussa Ulana Khomyuk (esta, personagem ficcional, como explicou Igor Gielow ). São eles que precisarão perfurar camadas de burocracia e dogmatismo para tentar conter um desastre maior. 

A cargo dos personagens estão Jared Harris e Emily Watson com a competência habitual (ele vivera o sócio britânico em “Mad Men”; ela brilhara em filmes de Robert Altman, Lars Von Trier e P. T. Anderson na virada do milênio).

Mas é o sueco Stellan Skarsgård (outro favorito de Von Trier) que dá dimensão à tragédia como Boris Shcherbina, então número dois no conselho de Mikhail Gorbatchov e incumbido de sanar a crise.

Com o burocrata sisudo que lentamente se deixa penetrar pela realidade, enxerga-se como pode ser letal a defesa intransigente de um ente maior (o Estado, o mercado, uma ideologia, uma escola econômica, uma religião) em detrimento daqueles que se lascam com a realidade cotidiana —homens, mulheres, crianças e, neste caso, animais, protagonistas de alguns dos momentos mais tensos da série.

Não é assunto novo, mas tampouco é algo concretado no túmulo da Guerra Fria, ela mesma um fantasma que dá as caras em tempos de trumps.

Houve incômodo entre os que viram na minissérie mais uma demonstração da arrogância americana, ou uma tentativa de apequenar a dita grandiosidade soviética.

O intuito do roteirista Craig Mazin parece mais amplo —mostrar os perigos que líderes presos às próprias crenças e ao orgulho ensejam.

Sabemos que as previsões mais tétricas feitas logo após a radiação vazar não se concretizaram, o que não torna “Chernobyl” menos pungente.

Dito isso, não se pode suprir o conhecimento de história com a série, que se ampara em fatos (sobretudo nos relatos compilados por Svetlana Aleksiévitch), mas é ficção.

Louve-se a dramaturgia que resgata o interesse por episódios históricos, mas, como diz minha colega Sylvia Colombo, “não nos esqueçamos dos livros e das boas narrativas jornalísticas se quisermos dizer por aí que sabemos algo de determinado tema”.

O último episódio de “Chernobyl” vai  ao ar às 21h nesta sexta (7) pela HBO; a minissérie está também na HBO Go

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