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Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

Fim de 'The Good Place' consolida série sobre o além como a melhor surpresa

Quem arriscaria que falar de filosofia, ética e religião com um humor que vai de tiradas sarcásticas ao pastelão genuíno daria tão certo?

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(este texto tem um spoiler no oitavo parágrafo sobre a primeira das quatro temporadas)

Com um cardápio de programação na TV tão cheio de melhor-coisa-que-já-surgiu e fórmulas que se repetem, é um risco nomear algo “a melhor surpresa dos últimos tempos”. Advertência feita, vá lá, ao menos no quesito comédia dá para fazer essa aposta com “The Good Place”.

Vejam, falamos em surpresa. Há um pequeno punhado de comédias recentes tão boas quanto ou até melhores. Mas quem arriscaria que uma série que fala de filosofia, ética e religião com um humor que vai de tiradas sarcásticas ao pastelão genuíno daria tão certo? 

Em suas quatro concisas temporadas encerradas em 31 de janeiro (sim, colunista atrasada) a série escrita por Michael Schur conduziu o espectador por temas e sentimentos mais afeitos à literatura, despertando insights de uma forma que aparenta despretensão. É raro ver essa combinação de qualidades no mesmo roteiro.

Como fazer humor com a pequeneza humana sem trocar a ternura pelo cinismo?

Como minimizar a dúvida central da nossa existência (o sentido da vida, o que há após a morte) sem desdenhá-la nem confiná-la a certezas e dogmas inexplicáveis?

O segredo foi escalar um sexteto de atores irrepreensível para dar vida a personagens que, embora não tenham mais uma existência humana, são mais palpáveis e realistas do que a turma de “Friends” e outras séries sobre vidas idealizadas.

Sim, “The Good Place” usa de realismo mágico e filosofia para abordar medos e alegrias muito terrenos, sem grandes apelos místicos. Entre tanta pirotecnia de formatos e narrativas, como ninguém havia tentado isso?

Do começo, porque soa complexo: “The Good Place” é a história de quatro humanos, um demônio e um ente onisciente (que parece uma Siri vitaminada) dispostos a se tornarem melhores e a mudar o sistema binário (céu/inferno, lugar bom/lugar ruim) que vigora após a morte.

Os humanos são Eleanor (Kristen Bell, eterna Veronica Mars), Chidi (William Jackson Harper), Tahani (Jameela Jamil) e Jason (Manny Jacinto), distintos entre si não só na aparência —algo revigorante— como em criação, nacionalidade, habilidades físicas e intelectuais, ambições. 

Os quatro são unidos na eternidade pelo demônio Michael (Ted Danson, muito melhor com os anos) e sua assistente Janet (D’Arcy Carden, gênio cômico a ser reconhecido) a fim de, primeiro, serem torturados, e, depois, evoluírem.

Usando símbolos do ideário judaico-cristão e da filosofia ocidental, mas sem abraçar nenhuma religião, a série faz graça com a perpétua busca humana por felicidade e sucesso, mesmo que estas sejam duas coisas indefiníveis. 

A última temporada, na qual se soma de vez ao elenco central a figura de uma juíza divina (a engraçadíssima Maya Rudolph), põe em xeque essa busca e sua própria definição como um grande nonsense, sem soar piegas. 

Melhor de tudo? “The Good Place” não chega nem perto de dizer de onde viemos nem para onde vamos, mas não faz feio ao sugerir por que diabos  estamos aqui.

As quatro temporadas de ‘The Good Place’ estão na Netflix

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