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Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

Descrição de chapéu Maratona Séries

'À Beira do Caos' trata as mulheres de meia-idade como figuras ocas

Mesmo as ricaças de 'Big Little Lies' têm problemas mais reconhecíveis do que o quarteto da nova série da Netflix

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Quando escreveu "À Beira do Caos", que estreou na Netflix nesta semana, Julie Delpy queria contar histórias de mulheres que foram mães perto dos 40, após a decolagem profissional. Com um tema rico nas mãos e a própria experiência de espelho, contudo, a atriz, diretora e roteirista francesa não extrai muito mais do que essa frase genérica dita à Variety.

Sua comédia, centrada nas amigas Justine, Ell, Anne e Yasmin, todas à beira dos 50 e com filhos de 12 anos, não se aprofunda nas ambições nem no desassossego das personagens.

Cena da série 'À Beira do Caos' - Reprodução

Delpy diz na entrevista que o tema maternidade se repete em sua obra —ela tem um filme a respeito prestes a ser lançado—, porque, avalia, o feminismo falhou em se reconciliar com esse aspecto da vida. Mas sua investida deixa à mostra um incômodo com a proposta, tratando os dois aspectos —mãe e profissional— como pontas soltas de meadas distintas, e não parte de um mesmo nó.

Na série, ela é Justine, chef de cozinha que vive em Los Angeles com o marido (Mathieu Demy), um arquiteto também francês, e o filho. O marido se ressente do sucesso de sua carreira e reage criticando seu comportamento com o menino. É um casamento de uma chatice insuportável, e por que Justine o mantém é um mistério que a diretora não explora. Da mesma forma, suas melhores amigas parecem presas em relações inócuas apenas para ticar a listinha de aspirações medianas.

A estilista Anne (Elisabeth Shue) é uma herdeira que passa a maior parte do tempo chapada e não nota que o filho é uma criança transgênero, que o marido está prestes a desistir da vida conjugal ou que seu negócio depende das mesmas práticas capitalistas que ela diz condenar; a intelectual Yasmin (Sarah Jones) pausou a vida profissional e hesita em retomá-la.

Por fim, há Ell (Alexia Landeau, corroteirista), um estereótipo pejorativo como mãe solo de três filhos de relacionamentos diferentes que patina para organizar sua vida como mãe e se torna refém dos caprichos das crianças. São bons esboços de personagens e de crítica comportamental que a série, apesar de ter 12 episódios, não consegue tirar do rascunho —muito menos dar nuances.

O que o espectador vê são mulheres com boas condições de vida —não apenas as financeiras— entediadas e perdidas sem que um insight seja oferecido para tal, como se a crise da meia-idade fosse algo oco e inevitável. Mesmo as mulheres inacreditavelmente ricas de "Big Little Lies" têm problemas mais reconhecíveis do que o quarteto de "À Beira do Caos".

É curioso que esses personagens tenham surgido de Delpy, memorável pela interpretação e os roteiros profundamente sensíveis da trilogia "Antes do Amanhecer", sobre os desencontros de um casal.
Da maturidade cheia de histórias retratada com delicadeza em "Antes da Meia-Noite", epílogo da cinessérie, não sobra nem sombra.

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