Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Descrição de chapéu Séries

'Made for Love' é uma fábula tecnológica sobre relacionamentos abusivos

Série protagonizada por Cristin Milioti é conto de fadas ao avesso com gênio do mal encarnado por magnata

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Cristin Milioti já não é a garota do guarda-chuva amarelo que manteve o protagonista —e os fãs— de "How I Met Your Mother" (2005-2014) suspirando há algum tempo. Dissociar-se da capa de heroína de comédia romântica, entretanto, continua sendo uma tarefa complicada. "Made for Love", que a HBO Max lançou neste mês, parece seu esforço mais bem sucedido até agora nessa empreitada.

Há um pouco de "Black Mirror" (de que a atriz já fez parte), um tanto de "Silicon Valley" (menos genial, porém), e algo de seu papel de mulher que se basta na primeira temporada de "Amor Moderno". Mais interessante, há uma dose de espírito dos tempos —esses tempos em que assistimos a ziliardários da indústria tec disputarem sua própria corrida espacial.

Cristin Milioti na série 'Made for Love'
Cristin Milioti em cena da série 'Made for Love' - Divulgação

Dividida em oito episódios, "Made for Love" mostra um conto de fadas do avesso, no qual Hazel (Milioti) se casa com um gênio da tecnologia megalomaníaco e inacreditavelmente rico que satisfaz todas as suas vontades e busca agradá-la ao ponto da exaustão (até pesquisa de satisfação de orgasmos ela responde).

Parece um upgrade de sua vida até então, na qual era uma universitária sem dinheiro que se desdobrava entre pequenos golpes e cuidar do pai viúvo. No entanto, desde seu primeiro encontro e subsequente casamento, ela não pode deixar a casa onde vivem.

Por "casa", entenda uma redoma com toda sorte de apetrechos onde o gênio recluso simula qualquer lugar. Assim, ele evita a fadiga de viajar e ter contato com o mundo real.

Quando encontramos a protagonista, ela está fugindo dessa gaiola de ouro onde passara dez anos e onde o marido, Byron Gogol (Billy Magnussen), pretende implantar um chip em seu cérebro que os conectará para sempre. Ele verá tudo que ela vê, escutará tudo que ela escuta e saberá tudo que ela sente ou pensa. É o novo produto da firma.

Entre piadas de humor sombrio com os hábitos estranhos de gente que funda megaempresas dispostas a dominar o mundo e a vida de boa parte dos terráqueos, há uma história de abuso doméstico e objetificação feminina, e outra de relação paternal. Uma vez fora da redoma, Hazel reata com o pai, numa bonita interpretação de Ray Romano para além da comédia.

É curioso como a figura do cientista maluco/maligno, do gênio do mal caiu bem aos magnatas da tecnologia, tornando um tema antigo e perene da ficção incomodamente verossímil. Gogol (que soa quase como Google, mas traz referências ao bando todo) tem sempre a melhor das intenções, seja para sua esposinha ou para o mundo.

Sua ideia deturpada de bem comum e de desejos individuais, ainda que exageradamente alegórica, traduz com eficácia o tanto de poder e controle que esses homens (porque são incontornavelmente homens) à frente das megatecs hoje possuem. Não espere maiores reflexões. O caso aqui é para diversão ligeira, e as séries citadas lá no início ficam como inspiração. Como entretenimento, vale bem.

Os oito episódios de "Made for Love" estão disponíveis na HBO Max, e a segunda temporada já foi encomendada

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