Depois do reencontro de "Friends", da curta reedição de "Tal Mãe, Tal Filha" e da desconfortável ressurreição de "Sex and the City" chegou às telas neste mês a nova versão de "How I Met Your Mother".

"How I Met Your Father" é tão pouco criativa quanto seu título indica. E, embora no primeiro momento a produção possa contentar fãs saudosos, ela não derruba a tese de que refilmagens são, quase sempre, perda de tempo.

A história dos desencontros amorosos do arquiteto Ted Mosby (Josh Radnor) até encontrar a mulher da sua vida sempre foi muito mais o retrato de um grupo de amigos supercoeso enfrentando as alegrias e dissabores de começar a vida adulta em Nova York.

De certa forma, "HYMYM" (a abreviatura consagrada pelos fãs) foi a sucessora menos sanitizada de "Friends", embora igualmente "brancocêntrica" e "heterocêntrica".

A versão 2022 corrige a bizarrice de terem todos os personagens centrais a mesma orientação sexual e o mesmo padrão racial mesmo estando numa das cidades mais diversas do planeta, e, sendo o elenco outro, o faz com mais naturalidade do que "And Just Like That", a pós-"Sex and the City".

Popular o elenco de atores negros, latinos e asiáticos, ter uma coprotagonista lésbica ou encher os diálogos de piadas sobre Tinder e Uber, contudo, não são suficientes para modernizar a surrada história da moça que apenas quer encontrar seu grande amor.

Como a protagonista, a fotógrafa Sophie, a ex-atriz mirim Hilary Duff tem mais carisma do que Radnor. Francia Raisa, a roommate, Valentina, prima pelo timing cômico.

Não fazem feio Christopher Lowell como o professor de música Jesse, amigo-talvez-futuro-marido de Sophie; Suraj Sharma como o dono de bar Sid, melhor amigo de Jesse; Tom Ainsley, o aristocrata deserdado que namora Tina, e Tien Tran na pele da destrambelhada irmã de Jesse, Ellen.

Seria demais cobrar de cara a mesma química do quinteto original, mas a escolha desse elenco até que funciona.

O mesmo não se pode dizer de Kim Cattrall como a versão de 2050 de Sophie. A ex-Samantha de "Sex and the City" está tão desconfortável em sua narração para um filho que a escuta em videochamada que quase reverte o esforço de atuação de Duff para tornar a personagem crível.

O problema é que o tipo de comédia que "How I Met..." mira é ultrapassado mesmo para quem passou dos 40 (que dirá para os tiktokers), e seus diálogos e tiradas podem ser excruciantes nesse aspecto.

Com uma heroína cujo único propósito é encontrar um par, sem mais motivações nem nuances, fica difícil vender a história como uma comédia do ponto de vista feminino em tempos de "Fleabag" e "Maravilhosa Sra. Maisel" (e olha que nenhuma delas prescinde de romance).

O que se tem aqui está mais para um fóssil narrativo do que para uma repaginação. Não é que não possa haver uma comédia assim no ar —é que ela simplesmente deixou de ter graça e, se for para assistir a algo congelado no tempo, é melhor ficar com o original.

'How I Met Your Father' está no Star+, com novos episódios semanais, e a segunda temporada foi confirmada