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Roteirista e escritora, é criadora da série 'As Seguidoras' e trabalha com desenvolvimento de projetos audiovisuais

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Paranoias virtuais

O mundo virtual está chato, não se pode nem fazer uma piada em paz

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O mundo à beira de um colapso ecológico e civilizatório, e o que mais me inquieta no momento é ver aquela pessoa online no Whatsapp enquanto a minha mensagem, ornamentada por dois tracinhos
azuis, flutua num limbo de silêncio e mágoa.

A pessoa em questão poderia estar ocupada demais para responder mensagens, mas não é o caso, já que está dando pinta online com o exclusivo intuito de esfregar na minha cara o seu completo desprezo pela minha sanidade mental.

A internet facilita muitas coisas, entre elas, a proliferação da paranoia. Quantas noites mal dormidas por causa de um nude extraviado, quantos diagnósticos de câncer patrocinados pelo Dr. Google, quantas amizades estremecidas por uma mísera curtida que deveria ter sido um “amei”?

Quanto tempo perdido decodificando emojis, afinal, um coração verde não tem o mesmo grau de afeto do que um coração vermelho, sendo o coração cor de rosa cravado por uma flecha um pouquinho over a não ser que você queira a mais intensa e mariabethânica declaração de amor possível na sociedade contemporânea.

É como se eu precisasse me atualizar o tempo todo —ou pelo menos junto com o Whatsapp, que agora demanda uma pós-graduação em semiótica de stickers. Procurar uma figurinha que traduza perfeitamente meus sentimentos pode demorar mais do que escrever um soneto.

Até a pontuação de um email é capaz me dragar por uma espiral sem fim, já que pontos finais são muito apáticos e exclamações são demasiado exageradas. Hoje mesmo recebi o seguinte retorno: “Parabéns pelo roteiro. Gostei”. Minha dúvida é: o quanto essa pessoa odiou o roteiro, em uma escala de 1 a 10? Meu chute é 7,5. Se a resposta fosse “Parabéns pelo roteiro! Gostei!!!”, também soaria falso (e talvez um pouco alcoolizado).

O mundo virtual está chato, não se pode nem fazer uma piada em paz. O “hehe” indica que a pessoa não achou a mínima graça e está rindo de constrangimento. O “haha” precisa ser em caixa alta e com pelo menos quatro unidades de “ha” para um resultado satisfatório. E é impossível confiar em quem ri com “rs” (risos), são psicopatas em potencial. A não ser que seja um uso irônico do “rs”. Mas, na internet, a ironia é um peixe fugaz, difícil de pescar. Por isso, por motivos de autopreservação, é melhor evitar. A internet, no caso.

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