Siga a folha

Roteirista e escritora, é criadora da série 'As Seguidoras' e trabalha com desenvolvimento de projetos audiovisuais

Como bombar a sua autoestima

Essa bomba foi colocada dentro dela; e ela precisa desarmá-la, com delicadeza

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Se ame como você é. Uma resposta simples para uma questão complexa: a baixa autoestima feminina.

Vamos aos ingredientes dessa combinação explosiva. Essa mulher é cuspida do ventre de sua mãe em uma sociedade que a inferioriza, a objetifica e a julga, sobretudo, pela sua aparência. E ela quer conquistar tudo aquilo que suas ancestrais sequer sonharam que poderiam ter. Os tempos estão mudando, a hora é agora, mas daí ela acorda, se olha no espelho e se acha feia para um cacete.

Então ela decide postar uma foto sem se submeter a esses filtros que deixam o rosto borrado como aquela restauração de um afresco de Jesus que virou meme. E, na legenda, denunciar como essa cultura da imagem transformou sua autoestima em um pombo atropelado.

Ilustração de Silvis para coluna de Manuela Cantuária de 17.jan.2023 - Silvis

No entanto, se essa mulher estiver minimamente inserida no raio do que é considerado o padrão de beleza vigente, ela acabará se questionando se sacudir a bandeira do padrãozinho que também sofre não seria injusto com outras mulheres que sentem pressões muito maiores.

É quando essa mulher decide ser a mudança que quer ver no mundo. Um mundo onde as mulheres se amam como elas são e têm plena consciência de que o culto à beleza feminina é um mecanismo de controle social articulado pelo patriarcado.

E ela faz isso vomitando todos os clichês de amor próprio na legenda da sua foto, o que não deixa de ser também um filtro para mascarar o quanto ela se odeia. Porque se antes ela se sentia feia, agora ela se sente feia e culpada. Por ser desonesta, por ser uma empoderada de Taubaté, por depender de migalhas em forma de emojis e por achar que os outros vão julgá-la, já que, para quem não é considerada fora do padrão, se aceitar é moleza, né, gata?

Ela desiste de postar sua selfie no espelho, seu arqui-inimigo. Já perdeu muito tempo se preocupando com sua imagem e brigando consigo mesma. Nem toxina botulínica, nem positividade tóxica. Finalmente essa mulher entende por que não precisa mudar nada por fora. Porque não existe uma sede do patriarcado onde ela pode explodir uma bomba, libertando a si mesma e a outras mulheres desses padrões.

Essa bomba foi colocada dentro dela. E ela precisa desarmá-la, com paciência e delicadeza, porque se essa bomba explodir, ela vai junto. E esse é o maior ato de autocuidado que ela pode fazer por si mesma.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas