Jornalista de ciência e ambiente, autor de “Psiconautas - Viagens com a Ciência Psicodélica Brasileira” (ed. Fósforo)
Só falta Bolsonaro vestir um cocar na ONU
Presidente deveria cortar o cabelo no Greenwich Village em vez de discursar na Assembleia Geral
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Como a esperança é a última que morre (dizem), ainda se aguarda um comunicado de última hora informando que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) cancelou viagem a Nova York por recomendação médica. Ou, então, que preferiu cortar o cabelo num salão do Greenwich Village em vez de discursar na Assembleia Geral da ONU.
Seria uma boa alternativa a envergonhar de novo o país perante a comunidade internacional, negando que haja uma crise do clima e que a destruição da Amazônia tenha alguma coisa a ver com isso. Todo mundo sabe que, para Bolsonaro e seus ministros, tudo não passa de uma conspiração neocolonialista globalista climatista para tomar o verde da bandeira.
Surgem notícias esparsas de que o presidente levará em sua missão suicida uma arma secreta: Ysani Kalapalo. Só pode ser ideia nascida no famigerado “gabinete do ódio” instalado no Planalto sob a tutela de Carlos Bolsonaro.
Com efeito, o 02, aquele que desconhece a diferença entre “decorrência” e “detrimento”, andou tuitando um vídeo da indígena youtuber sobre queimadas com a observação de que se tratava da “verdade sobre a Amazônia”. É uma peça constrangedora.
Obviamente bolsonarista, muito articulada e com vocabulário superior a alguns membros da família presidencial, Ysani afirma que são fake news as informações sobre o aumento de queimadas no governo Bolsonaro. Diz que é normal, nesta época do ano, usar o fogo para limpar o terreno e preparar a roça.
Se for para se informar por vídeo sobre a questão climática, melhor assistir ao alerta “Nós Avisamos”, em que uma penca de pesquisadores brasileiros deixa bem claro que a mudança do clima é real, causada pelos combustíveis fósseis e pela destruição de florestas, já começou e só a ignora quem quer.
Eis um bom resumo da atitude de Bolsonaro diante de fatos e evidências: poderia apoiar-se em dados de satélites e nos cientistas que os estudam há décadas; poderia ouvir pesquisadoras como Mercedes Bustamante, Thelma Krug e Suzana Kahn; poderia dar mais crédito aos milhares de autores dos relatórios do IPCC do que aos milhões de curtidas que obtém nas redes sociais com contrafações; prefere, entretanto, seguir a opinião infundada de uma única correligionária no Xingu. Isso, claro, se o presidente de fato pousar em Nova York para exibir o próprio exotismo ao lado de Ysani Kalapalo.
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