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Jornalista de ciência e ambiente, autor de “Psiconautas - Viagens com a Ciência Psicodélica Brasileira” (ed. Fósforo)

Descrição de chapéu Coronavírus

Quando ouvir Covid em 2021, pense máscara e distância, não vacina

Assim como impeachment, imunização contra Covid pode não chegar até 2022

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Os Estados Unidos fecharam o malfadado ano de 2020 com 2,8 milhões de vacinados contra Covid, tendo iniciado a imunização 17 dias antes. O plano era aplicar a injeção em 20 milhões de cidadãos até o Ano-Novo. No ritmo atual, contudo, toda a população americana estará protegida em... 5,5 anos.

No mundo todo foram administradas cerca de 9,5 milhões de doses. Supondo que cada unidade corresponda a uma pessoa, algo impreciso porque algumas já tomaram a segunda injeção, vacinar 7,8 bilhões demandaria, nesse ritmo, por volta de 50 anos.

Claro que esses dados não significam grande coisa como previsão. Todo processo começa devagar e ganha impulso com o tempo. Mas não dá para ser muito otimista quando a capacidade de produção e distribuição se conta em alguns milhões e a demanda, em bilhões.

Existe um lema entre pesquisadores para refrear os donos de imaginação prodigiosa na hora de formular hipóteses: se ouvir barulho de cascos, pense em cavalos, não em zebras. O cenário mais simples e racional é também o mais provável.

Por isso, quando ouvir falar em Covid durante o ano que começa, pense antes em usar máscara e manter distanciamento social, por ora os principais meios de proteger a si e aos outros. Não conte com a desculpa da vacina para baixar ainda mais a guarda.

O Reino Unido, que deu a largada em vacinação, promove agora um cavalo de pau ao se ver assediado pela variante mais infecciosa do vírus Sars-CoV-2, que também chegou ao Brasil. Em menos de um mês, esticou de 3 semanas para até 12 o intervalo entre a primeira e a segunda dose do imunizante.

A justificativa: proteger o maior número de britânicos no menor tempo possível, mesmo sem garantia de que a primeira injeção produza reação imune suficiente. Essas reviravoltas e a falta de transparência sobre planos e resultados —no Reino Unido, nos EUA, na China, no Brasil— decerto não contribuem para aumentar a confiança em vacinas.

Imagens de velhinhos tomando a picada protetora desencadeiam compreensível esperança, mas não é caso para entusiasmo. Somada à fadiga mental e moral após um ano de pandemia, a perspectiva reaberta pela vacinação tem o efeito paradoxal de relaxar medidas de prevenção e, assim, de reavivar o contágio.

Está aí o patamar reconquistado de mil mortes diárias no Brasil para evidenciar que estamos no pior dos mundos. O povo se anima com uma vacina que a maioria não verá antes de 2022, isso se nada mais der errado na massacrante gestão da epidemia por Jair Bolsonaro.

O presidente não tem compromisso com a honestidade, os fatos ou mesmo com a coerência. Fala qualquer asneira hoje sobre Covid e seu oposto amanhã, desde que sirva para chamar atenção e para desviá-la do prodigioso tropel sonante nas contas dos filhos, da mulher e nas suas próprias.

Mesmo sem o poder de converter tudo que fala em política pública, ele estimula inoperância no Ministério da Saúde e descrédito nas únicas medidas eficazes contra o coronavírus. Embora pululem condutas a configurar crimes de responsabilidade, a semeadura putrefaciente só produz farta colheita de curtidas, lacrações e notas de repúdio.

Bolsonaro se recusa a usar máscara e a distanciar-se para nos proteger de seus perdigotos. Sobra a esperança na vacina do impeachment, mas o ruído de cascos no Congresso sugere tanta competência em providenciá-la quanto o general Eduardo Pazuello na aquisição de seringas e agulhas.

Vai dar zebra.​

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