Jornalista de ciência e ambiente, autor de “Psiconautas - Viagens com a Ciência Psicodélica Brasileira” (ed. Fósforo)
Bolsonaro insiste em desacreditar vacinas e produzir mortes
Presidente tira de novo o freio da boca e volta a atacar imunizante chinês
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Jair Bolsonaro progrediu. Deputado, defendia que a ditadura militar deveria ter matado 30 mil. No poder, presidente, ajudou a despachar mais de 100 mil para a cova —se bem que muitos nem eram inimigos, talvez 30 mil bolsonaristas.
A multidão de defuntos que mandou "para a ponta da praia", como diria em seu linguajar odiento, compõe parcela significativa das 665 mil vítimas brasileiras. Para quem tem o coração peludo e o cérebro esfarelado, pode parecer pouco diante de 1 milhão de cadáveres do coronavírus nos EUA, ou 13 a 17 milhões no mundo —mas não.
Primeiro, há a subnotificação, maior aqui do que por lá. Estimativa de Elisabeth França, da UFMG, publicada em 5 de maio, apontava 18% a mais de mortalidade no primeiro ano da pandemia, ou 37 mil óbitos acima do cômputo oficial no período.
Supondo que o percentual se tenha mantido, estaríamos na casa de 875 mil brasileiros vitimados pela Covid. E muita gente não ficaria surpresa se a cifra real chegasse perto de 1 milhão, patamar lúgubre que otimistas de ocasião sempre deram por delirante.
Nem é preciso usar esse deflator, entretanto, para dar-se conta de que o Brasil está mal na fita e que Bolsonaro, imitador sem talento de Donald Trump, superou o mestre. Basta pôr os dados na proporção das respectivas populações.
Cotejando 665 mil com 213 milhões de brasileiros, chega-se a 3,12 mortes por mil habitantes. Nos Estados Unidos, o cálculo indica 3,03/1.000 —vergonha para o país mais desenvolvido do planeta, decerto, que contava porém com um movimento antivacina enraizado e amplo, o que bolsominions ainda não lograram por aqui.
Não foi falta de esforço e caráter de Bolsonaro. Agora mesmo, ele teve o desplante de tirar partido do aumento de casos na China para lançar gasolina caríssima na fogueira negacionista, pondo em dúvida a eficácia da coronavac de João Doria, sem a qual o país teria ficado refém da ignorância presidencial.
"Por que que a China tá com Covid? Não é de lá a vacina? Qual é o problema? Ou era vacina só para exportar? Não era para ter ninguém com Covid na China", lascou o presidente na sua Idade da Pedra mental.
A ditadura asiática, que não titubeia na hora de impor draconianos lockdowns em megacidades como Xangai, teve até aqui 15.602 mortes por Covid. Com 1,4 bilhão de habitantes, ostenta 0,01/1.000 de taxa de óbitos, conta que o homem da casa de vidro não se deu ao trabalho de fazer e talvez nem conseguisse (trabalho não é com ele).
Sua especialidade é jogar fumaça nos olhos do público —das queimadas na Amazônia, no cerrado e no Pantanal, também de blindados mais obsoletos que o general Heleno. Queria meter a mão amiga nos números de casos e mortes, e não deu certo, mas o braço forte continua dando as cartas no Ministério da Saúde.
Surtos de dengue se espalham pelo Brasil, e já falta reagente para realizar testes laboratoriais para diagnósticos conclusivos. Pode ser só coincidência, mas com certeza é sintoma da deterioração do Estado que um dos generais-marajás aumente o sigilo de dados sobre os estoques de medicamentos do governo federal.
A desculpa de Ridauto Fernandes, diretor de Logística da Saúde (deve ser da mesma escola de intendência de Eduardo Pazuello), é impedir que vendedores aumentem os preços daquilo que o ministério tenha urgência de comprar.
E o tonto aqui achando que a função do administrador é não deixar faltar. Ou que é dever do presidente, mesmo um mau militar, não deixar morrer compatriotas.
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