Diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, ganhador do Prêmio Louis D., do Institut de France.
Morre Issey Miyake, o mais matemático dos estilistas
Muitos dos modelos mais espetaculares de Miyake foram feitos com tecidos plissados
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O japonês Issey Miyake, o mais matemático dos grandes estilistas, buscou inspiração na geometria para encontrar soluções inovadoras e estéticas para um dos problemas mais antigos da civilização: como melhor cobrir um corpo humano, e suas curvas, com um tecido plano?
O fato de que esse problema é inerentemente matemático pode parecer surpreendente, mas não passou desapercebido a grandes matemáticos da história. Já em 1770, Leonhard Euler se perguntava "quais superfícies podem ser cobertas com papel, podendo dobrar, mas não esticar nem rasgar?"
Em trabalho publicado nos anais da Academia de Ciências de São Petersburgo, chamou tais superfícies de "desdobráveis", apontando que o cilindro e o cone são desdobráveis, mas a esfera não é. É o problema fundamental da cartografia: não é possível representar a superfície esférica da Terra na forma de um mapa plano sem "esticar" ou "rasgar" a imagem.
Mas Euler foi além, provando um teorema importante sobre as superfícies desdobráveis: elas precisam ser regradas, ou seja, completamente formadas por linhas retas contidas na superfície. É um conceito que os geômetras conhecem bem, mas que no mundo da costura ganha outro nome: superfície plissada.
Não é, portanto, um acaso que muitos dos modelos mais espetaculares de Miyake tenham sido realizados com tecidos plissados.
A teoria iniciada por Euler foi continuada um século depois por Pafnuty Chebyshev, um dos maiores matemáticos russos de todos os tempos, em trabalho de 1878 intitulado "Sobre o corte de roupas". Uma evolução importante é que, no lugar de papel, ele pensou em roupas feitas com tecido, que tem propriedades bastante diferentes e lhe proporcionou encontrar novas soluções para o problema.
Outra vez, embora o trabalho de Chebyshev nunca tenha sido publicado, várias de suas ideias foram redescobertas por Miyake em seu processo de criação artística e incorporadas a suas peças.
Nascido na cidade japonesa de Hiroshima, Miyake tinha 7 anos quando a sua escola foi atingida pela primeira bomba atômica da história da humanidade. Do episódio, ficaram sequelas físicas que carregou toda a vida. Desenvolveu muito de sua carreira na França, país em que foi alvo de várias distinções. Faleceu em Tóquio na sexta-feira (5).
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