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Professora de demografia e chefe do Departamento de Saúde Global e População da Escola de Saúde Pública de Harvard.

Há alerta, mas falta ação para combater obesidade no Brasil

Atividade física insuficiente e consumo alimentar precário contribuem para aumento da situação no país

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Desde 2006 o Brasil realiza o Vigitel, um inquérito telefônico anual que entrevista adultos com 18 anos ou mais nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal. O Vigitel é um dos inquéritos que compõem o Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas não Transmissíveis.

O relatório de 2021 do Vigitel, divulgado em abril, mostrou que 11,3% dos adultos já tiveram um diagnóstico de depressão. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde, esse percentual era de 10,2% em 2019 e 7,6% em 2013. A situação é pior entre mulheres com menor escolaridade, e entre adultos acima de 45 anos. Uma pesquisa feita com grávidas em Fortaleza durante o período de lockdown em maio de 2020 revelou que 45,7% apresentavam sintomas depressivos. Também preocupa a prevalência de depressão e ansiedade entre crianças e adolescentes, cerca de 25% entre 2020 e 2021. A pandemia de Covid-19 certamente contribuiu para essa piora. Preconceito, desinformação e inequidade no acesso e na qualidade do tratamento são barreiras a serem vencidas.

O Vigitel mostrou ainda que 60% dos homens e 55% das mulheres apresentavam sobrepeso e cerca de 1 a cada 5 adultos era obeso. Os números são piores entre os mais velhos e os que possuem menor escolaridade. Vale lembrar que a obesidade aumenta o risco de casos graves e morte por Covid-19, e foi recentemente apontada como um dos fatores que retardam a recuperação de pacientes que sofrem de Covid longa.

Risco de obesidade é 45% maior entre adolescentes cuja dieta é baseada em ultraprocessados - Africa Studio - stock.adobe.com

A prevalência de sobrepeso e obesidade no Brasil tem aumentado consistentemente ao longo dos anos. Em 2006, quando foi feito o primeiro inquérito, cerca de 1 a cada 10 adultos era obeso, e 43% apresentavam sobrepeso. Aqui, três pontos são importantes.

Primeiro, cerca de 39% dos homens e 56% das mulheres não reportaram um nível suficiente de prática de atividade física, enquanto 16% dos adultos eram fisicamente inativos. Novamente, a situação é pior entre aqueles com menos anos de estudo.

Segundo, o padrão de consumo alimentar não é ideal. Apenas 17% dos homens e 26% das mulheres consumiram cinco ou mais porções diárias de frutas e hortaliças, enquanto 22% dos homens e 15% das mulheres referiram o consumo de cinco ou mais grupos de alimentos ultraprocessados. Os mais jovens reportaram consumo mais elevado de ultraprocessados, 28% entre pessoas com idade entre 18 e 24 anos.

Terceiro, cerca de 26% dos adultos em 2021 já haviam recebido um diagnóstico médico de hipertensão arterial e 9% tiveram diagnóstico de diabetes. Esses percentuais foram muito mais elevados entre adultos com 65 anos e mais (61% de hipertensão e 28% de diabetes) e entre os que possuíam 8 anos ou menos de escolaridade (45% de hipertensão e 18% de diabetes).

Esse contexto de atividade física insuficiente e consumo alimentar precário contribui para a tendência de aumento de sobrepeso e obesidade, que por sua vez piora a prevalência de diabetes e hipertensão. A piora desse contexto já vem sendo mostrada pelo Vigitel e outros inquéritos ao longo dos anos.

Com o recente aumento das desigualdades e o envelhecimento populacional em curso, o aumento da carga futura de doenças crônicas e a piora do contexto aqui apresentado são prováveis a não ser que haja ações concretas e imediatas. A demanda por atendimento e procedimentos médicos em função dessa piora poderá ultrapassar a capacidade de resposta do sistema de saúde.

Há dados, o alerta já foi dado há tempos, e a janela de oportunidade para agir a cada dia fica menor. Que os candidatos à presidência apresentem seus planos para reverter essa tendência e garantir uma vida saudável com equidade para a população brasileira.

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