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Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

Investidores de "carne e osso" ganham munição para lutar por seus interesses

Cobranças do mercado impõem agenda ESG para empresas

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Em praticamente 90 dias, todas as empresas listadas na Bolsa de Valores vão ser obrigadas a divulgar uma série de dados sobre sua atuação no que hoje chamamos de ESG —iniciativas de governança corporativa, social e ambiental.

Em janeiro, entra em vigor a resolução da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) que obriga as companhias a, no mínimo, se justificarem, caso não tenham, por exemplo, inventários de emissão de gases do efeito estufa ou canais para envio de questões críticas relacionadas a questões ambientais para o Conselho de Administração.

O ponto mais interessante dessa abertura é dar munição para os investidores questionarem o que é feito pelas empresas nas quais eles investem.

Por mais que a vontade de um investidor "de carne e osso" não faça cócegas nas finanças de uma companhia da Bolsa, o movimento de transparência (e vigilância) aumenta a pressão também sobre players institucionais, que movimentam o dinheiro de verdade.

Os fundos de investimento —com suas carteiras milionárias, bilionárias e trilionárias— têm a obrigação de estar em contato direto com seus cotistas e adequar suas estratégias às vontades deles, sob a pena de perder investidores.

O próprio Larry Fink, CEO da BlackRock, a maior gestora de ativos do mundo, escreveu que, com o crescente impacto da sustentabilidade no retorno dos investimentos, a base mais forte para os portfólios dos seus clientes no futuro é o investimento sustentável.

É um passo importante na direção do que o fundador do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab, chama de capitalismo de stakeholders. Ou seja: quando as empresas passam a tomar decisões guiadas pelos interesses da sociedade.

Uma mudança como essa, na forma de tomar decisões, não vem sem um empurrãozinho. Sete casos de "empurrõezinhos" emblemáticos acontecerem nos últimos cinco anos, nos Estados Unidos, no Reino Unido e no Brasil, de acordo com um estudo publicado em agosto pela FGV Direito SP, em parceria com a Laclima (que reúne especialistas em direito das mudanças climáticas)

Nos casos em questão, grandes fundos de investimento obrigaram empresas como Exxon Mobil, Chevron e Eneva a mudarem seus planos em relação à emissão de carbono e à transição de matriz energética, atuando como verdadeiros investidores ativistas —minoritários que pressionam a administração da empresa por mudanças.

Aqui, os minoritários têm pouca voz e vez, como analisa o economista Aurélio Valporto, presidente da Abradin (Associação Brasileira de Investidores). Obrigar as empresas a divulgarem seus passos no caminho ESG deve dar força para esse tipo de atuação.

A necessidade de se adequar a esse novo ambiente já tem mudado a rotina inclusive de companhias que dificilmente seriam associadas à agenda ESG.

Ainda que a indústria de armas esteja automaticamente excluída de índices ESG como da Dow Jones, o CEO da Taurus Armas, Salesio Nuhs, contou, em conversa recente comigo, como contratou uma auditoria internacional para entender o posicionamento da empresa e trabalha, agora, em um relatório sobre o tema para seus investidores.

Se até a única fábrica de pistolas, revólveres e fuzis da Bolsa está se movimentando para encontrar um bom posicionamento ESG, a onda de informações sobre o tema, esperada para o início do ano que vem, certamente vai ajudar o investidor a navegar melhor, usando a sua própria bússola de interesses.

Uma pesquisa divulgada pelo Google na última semana mostrou que quase metade dos brasileiros (47%) não associam nenhuma marca aos temas ESG. Agora as empresas na Bolsa terão a chance de mudar isso. Para o bem ou para o mal.

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