Com a divulgação dos balanços do último trimestre, mostrando a realidade desafiadora pela qual passa a economia, é hora dos analistas de investimentos rebalancearem suas recomendações. E o que vemos é que os últimos números parecem ter baixado a adrenalina do mercado.
As receitas aumentaram significativamente na grande maioria dos setores, em comparação com o ano passado. Entretanto, os lucros caíram. Ou seja: entrou mais dinheiro, só que vimos companhias menos eficientes ou com margens de lucro mais apertadas do que no ano passado, o que reduz a perspectiva de crescimento.
No agronegócio, por exemplo, a receita saltou de R$ 31,3 bilhões, no segundo trimestre de 2021, para R$ 50,7 bilhões, no mesmo período deste ano.
O lucro registrado, no entanto, despencou de R$ 2 bilhões para R$ 619 milhões. Na saúde, enquanto a receita aumentou 30,9%, os lucros caíram 35,1%, de acordo com estudo do BTG Pactual, olhando as empresas com ação em Bolsa. Dos 18 setores que o banco analisa, aliás, 15 tiveram aumento das receitas e 13 levaram um tombo nos lucros.
Os resultados não são desesperadores, mas levaram a uma onda de revisões dos preços-alvo das ações, ou seja, dos valores aos quais os papéis devem chegar em até 18 meses, de acordo com os especialistas dos grandes bancos e casas de análise.
Sobrou até para a Vale. Queridinha do mercado nos últimos anos e surfando no chamado superciclo das commodities, com alta demanda da China, a empresa "perdeu pontos" com os analistas. O Itaú BBA, banco de investimentos do Itaú, rebaixou sua recomendação para os papéis da empresa na Bolsa de Nova York, saindo de "compra" para "neutro".
Os especialistas do banco definiram o preço-alvo dos papéis da Vale no exterior, para o fim do ano que vem, em US$ 15. Hoje, o preço está na casa dos US$ 13 e, até então, a perspectiva do Itaú BBA era que os papéis chegassem a US$ 20 ainda no fim de 2022.
O rebaixamento de preços foi disseminado. O Bank of America (BofA) manteve a recomendação de compra para as ações da JBS (JBSS3), mas reduziu o preço-alvo de R$ 67 para R$ 55. Uma queda de praticamente 18% nas expectativas para os papéis, hoje na casa dos R$ 32.
O Credit Suisse baixou preço-alvo para as ações da Raízen (RAIZ4) de R$ 8,50 para R$ 6,50, mantendo recomendação de compra. Os papéis estão sendo negociados na casa dos R$ 5,10 atualmente.
Até a PetroRio, cujas ações acumulam alta de 21% neste ano, levou uma poda nas perspectivas de analistas. O BTG reduziu o preço-alvo para os papéis PRIO3 de R$ 47 para R$ 37. As ações da petroleira estão perto de R$ 24.
a construção civil, o gigante Citi passou a recomendar a venda das ações da EZTec (EZTC3), apostando que os papéis chegarão ao preço de R$ 15. Hoje, eles são negociados na casa dos R$ 20.
Esses são só alguns exemplos da última rodada de revisões de preços, mas mostram como os analistas dos bancos e das casas de análise estão pouco impressionados com os resultados do trimestre.
A boa notícia veio justamente do varejo, que apanhou tanto na pandemia, mas, agora, viu as lojas físicas superarem os canais eletrônicos, mostrando a volta de hábitos de compras aos quais estávamos mais acostumados.
Levando em conta a sinalização de consumo presencial e a redução dos lucros, o varejo de alta renda está na mira de gestores, trazendo boas oportunidades no curto prazo, já que oferece altas margens de lucro e depende menos do repasse dos custos para seus consumidores.
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