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Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

Auditorias no banco dos réus?

Caso Americanas vai bater à porta dos responsáveis por avaliar as contas e dizer ao mercado que está tudo bem

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Foi impossível passar a semana sem notar o caos instaurado com o rombo nas contas das Americanas. As ações AMER3 derreteram, o seu agora ex-CEO, Sérgio Rial, também ex-CEO do Santander Brasil, ganhou as manchetes com explicações difíceis de entender. Sua apresentação, após o anúncio da falha bilionária, lembrou um filho que tira nota vermelha e culpa a escola nova.

Em nove dias no cargo, diz ter encontrado um problema que fez estremecer todo o varejo nacional, mas não quis conduzir o navio na correção da rota, que, segundo ele mesmo, seria perfeitamente viável, dependendo do aporte de "mais do que alguns milhões".

Na sexta-feira, dias depois da explicação talhada para "acalmar o mercado", a empresa foi à Justiça para impedir seus credores de fazerem uma corrida para cobrar o que lhes é devido. E aqueles investidores que acreditaram numa retomada levaram um novo susto, que vai cobrar seu preço nesta semana.

Logotipo empresa de auditoria PwC em seu escritório em Berlim - Wolfgang Rattay - 20.set.19/Reuters

Além da administração da empresa –atual e anterior– o questionamento vai bater novamente à porta do responsável por avaliar as contas e dizer ao mercado que estava tudo bem: as auditorias.

Para entrar na Bolsa de Valores, as empresas precisam apresentar a aprovação de suas contas por auditorias externas. Isso seria um "selo de qualidade" para os investidores saberem que não estão entrando numa canoa furada. Ou ao menos sem furos visíveis.

Mas a história recente tem mostrado a ineficiência do atual sistema em encontrar furos. Como listei aqui, fraudes e desvios da Petrobras, descobertos na operação Lava Jato; a situação insustentável da Evergrande, que colapsou o mercado imobiliário chinês; e o "erro" de bilhões nas contas das Americanas passaram pelo "pente fino" da mesma empresa de auditoria: PricewaterhouseCoopers, ou PwC. E tiveram suas contas aprovadas.

Ela é uma das chamadas "Big Four", ou seja, as quatro maiores auditorias do mundo, que são responsáveis por analisar as contas de quase todas as empresas que têm ação em Bolsa. As outras são KPMG, Deloitte e EY.

A concentração do mercado de auditorias independentes é um problema para investidores. A cada evento desses, é gerada uma nova onda de desconfiança nas contas de todas as outras empresas auditadas. Se passa um rombo desses, o que mais não aparece as lentes?

Há cerca de nove anos, a Justiça de São Paulo condenou a PwC a pagar R$ 25 milhões em indenização por negligência em auditoria feita no antigo Banco Noroeste. Ex-controladores do banco acusaram a empresa de não apontar, em verificações feitas antes da venda ao Santander, em 1998, desvios de US$ 242 milhões.

Agora, como a lei brasileira impede a responsabilização da própria empresa por danos causados a seus acionistas, investidores estão buscando quem vai pagar a conta pela desvalorização histórica de seus papéis. Tudo indica que a auditoria vai voltar ao banco dos réus.

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