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Editor da Ilustríssima, formado em administração de empresas com mestrado em comunicação pela UFRJ. Foi editor de Opinião da Folha

Milei, o ultrapateta, é o novo tango argentino

Candidato radical vence prévias e é a figura política do momento no país

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Javier Milei, o ultrapateta que saiu à frente nas prévias eleitorais argentinas, tem uma faceta comovente: adora cães. Há quem diga que não se deve confiar muito em pessoas que não gostam de animais. Faz sentido.

A questão é que Milei tem uma relação muito peculiar com seus pets.

Javier Milan discursa em Buenos Aires - Alejandro Pagni - 13.ago.23/AFP

O que mais desperta curiosidade é a versão de que ele se comunica por meio de médiuns com seu primeiro mastin inglês, Conan, que morreu em 2017. O candidato à Casa Rosada não apenas consulta-se com o espírito de Conan como, para assegurar sua continuidade terrena, teria desembolsado 50 mil dólares para clonar suas células no EUA. Conan é pai de três de seus cinco melhores amigos.

No mês passado passei uma semana em Buenos Aires e amigos e conhecidos humanos argentinos, com quem estive, foram unânimes na avaliação de que o país encontra-se diante do momento mais inquietante de sua história democrática. O mantra que se repetiu: nada que sair das próximas eleições promete ser bom.

Havia, no entanto, uma sensação de que a ameaça de Milei estaria perdendo força. "As eleições brasileiras têm algum peso regional e a derrota de Bolsonaro", dizia-me um escritor, "foi um bom sinal". Pesquisas e análises de fato davam algum fundamento a essa perspectiva menos catastrófica. Só que não.

Milei é a caricatura argentina da onda populista de extrema direita internacional antissistema e antipolítica que produziu no Brasil o que sabemos. Com o resultado das prévias do fim de semana tornou-se uma força incontornável. É "a" figura política do país neste momento.

Suas propostas, em estado bruto, são apocalípticas. Um misto de "Loucademia de Polícia" com "Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu". Entre as mais ruidosas ideias do tutor de Conan figuram a dolarização da economia, a extinção do Banco Central e o direcionamento do comércio de órgãos para pagar a dívida externa. Milei já recebeu congratulações de Bolsonaro, aquele que aqui se tentou normalizar como conservador em costumes, liberal em economia e intransigente com a corrupção e o fisiologismo.

É certo que o jogo ainda não foi jogado, mas a impressão que fiquei de minha breve passagem pela querida Buenos Aires foi a mesma que tive por aqui em 2018 —a dificuldade de entender e reconhecer um processo social e político descontrolado que transforma o "isso não é possível" em fato. Diante das circunstâncias, como dizia o trágico verso de Manuel Bandeira, se não for possível um pneumotórax político, a única coisa a fazer será mesmo tocar um tango argentino.

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