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Editor da Ilustríssima, formado em administração de empresas com mestrado em comunicação pela UFRJ. Foi editor de Opinião da Folha

Descrição de chapéu violência

Casos Vini Jr, Daniel Alves e Marielle geram revolta

Racismo, leniência com estupro e assassinato brutal orquestrado dentro de instituições deixam sabor amargo

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Três episódios deixaram a semana com sabor amargo e causaram revolta. A fiança de 1 milhão de euros que retirou Daniel Alves da prisão, um homem condenado por crime de estupro; o choro sofrido e solitário do jogador Vini Jr., do Real Madrid, ao falar sobre a perseguição racista que sofre na Espanha; e por fim as circunstâncias apontadas pela Polícia Federal para indicar os mandantes do assassinato de Marielle Franco.

Os dois primeiros casos tiveram lugar na Espanha, país que nem sempre tem conseguido mostrar uma face muito simpática aos brasileiros. Nesta semana, a mensagem que veio de lá foi de racismo, mais uma vez, e de leniência judicial vergonhosa ao precificar um estupro. Um tapa na cara das mulheres e de quem preze princípios civilizatórios básicos. É inaceitável que se estabeleça uma fiança milionária para um criminoso milionário se livrar da cadeia.

Sessão solene em homenagem a Marielle Franco no plenário da Câmara dos Deputados - Pedro Ladeira - 26.mar.24/Folhapress

A insistência com que alguns espanhóis repetem que a Espanha "não é racista" choca-se com a realidade. Tem-se a impressão, posso estar enganado, de que prevalece nesses casos uma imagem idealizada e condescendente do país, uma maneira de ser negacionista diante de fatos. Se não é racista é forçoso reconhecer que o racismo se manifesta de maneira persistente e ruidosa em setores da população. A Europa, por mais que se veja como iluminista, é um continente com longo histórico de racismo e xenofobia.

No Brasil esse tipo de autoengano existe também. O governo trevoso de Jair Bolsonaro considerava oficialmente que não havia racismo por aqui --e há quem continue a pensar assim.

Quanto ao assassinato de Marielle Franco, chamaram a atenção a imensa crueldade e os requintes de cinismo de suspeitos, como Rivaldo Barbosa, então chefe da Polícia Civil, e o delegado Giniton Lages. Ambos, que teriam participado da trama criminosa, mostraram-se solidários com a família da vítima –com direito, no caso do segundo, de lançar um livro sobre a vereadora.

O clamor em torno da situação de descontrole institucional do Rio de Janeiro tem fundamento, obviamente, mas o problema é antigo e não diz respeito apenas à situação fluminense. Os sinais sugerem de maneira enfática que o domínio do narcotráfico, do crime organizado e das milícias sobre o mundo político e institucional é amplo e profundo. Interesses de organizações criminosas estão disseminados em instituições e nos poderes.

O caso da Amazônia é extremamente grave. O controle de rotas de escoamento de bilhões de dólares em cocaína se associa ao garimpo ilegal e à grilagem de terra. Facções formadas em presídios brasileiros se tornaram multinacionais do crime.

Enquanto alguns fazem pose de indignados com o Rio (que merece mesmo a indignação), é bom lembrar que a capital paulista é o berço do PCC, gigante do crime que estende tentáculos pelo território brasileiro e além de nossas fronteiras. Recentemente, aliás, o ex-tenente-coronel José Afonso Adriano, tido como chefe de um vasto esquema de corrupção na PM de São Paulo, afirmou que todas as unidades da corporação teriam caixa paralelo para desviar recursos públicos.

Se no Rio ou na Bahia o quadro de violência e desmando salta aos olhos, é um erro não considerar que estamos diante de uma chaga em escala nacional.

O drama é que não se vê solução à vista. Medidas como a legalização do jogo do bicho e das drogas leves e a reforma das polícias num escopo que contemple a responsabilidade federal parecem distantes do horizonte.

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