Jornalista e roteirista de TV.
Satanás, paz e amor
Templo Satânico é reconhecido como instituição beneficente pela receita federal americana
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Em abril, a receita federal americana reconheceu como instituição beneficente, mesma categoria de entidades religiosas, o Templo Satânico. Sim, isso mesmo. Mas, ao contrário do que possa parecer, os fiéis, que saltaram de 3 para 50 mil, não acreditam no diabo e não fazem rituais em que bebem sangue ou sacrificam criancinhas. Tampouco prometem luxúria, poder e riqueza. Eles até se vestem de preto, mas só usam tridentes em ações para limpar praias e acostamentos de rodovias.
Seus valores e objetivos são o foco do documentário "Hail Satan", da diretora Penny Lane. Os satanistas levantam as bandeiras da igualdade, das liberdades individuais, como casamento gay e aborto, da separação entre Estado e igreja. Pautas demoníacas aos olhos dos conservadores americanos —e brasileiros.
O método de atuação é provocativo. Uma das brigas que mantêm é contra o Capitólio de Oklahoma. Em defesa da pluralidade religiosa, o Templo encomendou uma estátua de Baphomet, deus com cabeça de animal e torso de Iggy Pop (sério), e quer que seja instalado no local, ao lado de uma tábua dos dez mandamentos, dessas que vemos nos filmes bíblicos.
São ateus? "Não. Ateus não têm uma iconografia nem uma comunidade com a qual possam se reunir", diz um membro. É curioso que logo Satã seja invocado para defender igualdade e harmonia. Uma das membras do Templo Satânico, muito empolgada num culto, desejou a morte de Trump. Apesar de ser ativa na "congregação", foi banida pelo discurso de ódio, fora dos "padrões éticos", inadmissível numa seita "não violenta". Quem diria? Satanás é paz e amor.
Enquanto por aqui, temos um presidente que é ovacionado quando faz arminha em marcha religiosa, ameaça minorias, elege inimigos, instiga intolerância e polarização, tudo em nome de uma "sociedade judaico-cristã". Vá entender.
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