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Jornalista e roteirista de TV.

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Mariliz Pereira Jorge

O futuro nas mãos dos homens

Biden e Trump liderarem corrida nas eleições americanas mostra que o poder ainda é lugar masculino

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É frustrante ver dois homens, brancos, héteros e idosos liderando a corrida nas eleições americanas. Uma das democracias mais importantes no mundo, um país que, gostem ou não, serve de bússola para a política internacional, que ajuda a retratar os humores ideológicos que pautam a sociedades ocidental, nos mostra que o poder ainda é um lugar muito masculino, mesmo que as opções sejam péssimas.

O presidente dos EUA Joe Biden durante debate na Geórgia com o ex-presidente Donald Trump - REUTERS

Trump é um sujeito mentiroso, narcisista, encrenqueiro, misógino, xenófobo, com ideias retrógradas e espírito punitivista. Biden é um cara decente, sensível e bom presidente, mas tem a energia de uma samambaia triste. É isso que os Estados Unidos têm a oferecer na terceira década do século 21? Estamos perdidos. Ao assistir ao debate, a constatação foi de que o mundo ainda pertence aos homens, que não é preciso muito esforço para ganhar espaço e a chance de ocupar uma das posições mais importantes do planeta, basta ser homem.

Eu engrosso o coro, há anos, de que "the future is female" (o futuro é feminino), mas essa promessa só se concretizou dentro do meu escritório, onde as paredes gritam palavras de ordem, de onde ouço das prateleiras Simone de Beauvoir, bell hooks, Camille Paglia, Virginia Wolf, entre tantas. Algumas delas foram estrelas da Labyris Books, a primeira livraria nova-iorquina dedicada à venda de produção literária exclusivamente feminina e lésbica, e que adotou o slogan abraçado pelos movimentos feministas ao longo de décadas. Mas isso foi em 1972. O futuro ainda patina no passado.

A história tem sido marcada por pequenas revoluções que colocam as mulheres em papéis de liderança, mas sem o protagonismo necessário para que as políticas públicas sejam pensadas e implementadas e superem a intermediação de homens. São eles quem se sentam às mesas de negociação, é sua visão de mundo, é sua experiência pessoal e profissional. Não interessa que tenham mães, filhas, que sejam casados. Toda as decisões continuam sendo tomadas a partir de um ponto restrito da vivência masculina e, por mais empática que ela seja, não é o suficiente.

Onde estão as mulheres? Onde estão aquelas conectadas com a realidade da mulher contemporânea, com o mundo tão distante de homens que cheiram a naftalina, para quem todos os temas mais importantes da atualidade são estatísticas e não vivência? A essa altura, não deveríamos mais delegar poder a agentes que não se comprometam a adaptar o mundo para que ele esteja pronto para nossas demandas de trabalho, de filhos, de segurança, de relações saudáveis.

Desde a primeira eleição que levou Trump ao poder, não sem muito protesto, é nítido o maior interesse e participação das mulheres, principalmente das solteiras. É o que tem guiado a agenda política e teve impacto profundo nos processos eleitorais pelo mundo. As pautas femininas como igualdade salarial, direitos reprodutivos, fim da violência doméstica, passaram a ser tópicos prioritários na decisão do voto. São sinais importantes de que o ativismo feminino e jovem na política do século 21 pode ser transformador. E isso serve para os Estados Unidos, para o Brasil e para ditaduras teocráticas, que encontram resistência em suas políticas de repressão.

Por que, então, o futuro continua nas mãos dos homens?

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