Pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, ensina relações internacionais na UFABC
Em todo cientista há um diplomata
Como a ciência tem ajudado a resolver alguns desafios globais
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Esta coluna foi produzida especialmente para a campanha #CientistaTrabalhando, que celebra o Dia Nacional da Ciência. Ao longo do mês julho, colunistas cedem seus espaços para abordar temas relacionados ao processo científico, em textos escritos por convidados ou por eles próprios.
O artigo a seguir foi escrito pela doutora Maria Augusta Arruda, farmacologista e gerente de projetos estratégicos na Universidade de Nottingham.
A pandemia tem funcionado como uma lupa, nos ajudando a enxergar aspectos da nossa sociedade. Vemos o quão não sustentáveis são nossos hábitos de consumo e não podemos mais ignorar as muitas faces da desigualdade —regionais, raciais e de gênero—, no Brasil e no mundo.
Os desafios que ameaçam a vida na Terra são globais. Poluição, desmatamento, aquecimento global e a falta de resiliência dos sistemas financeiros não respeitam fronteiras geográficas. As soluções só são possíveis a partir da cooperação internacional.
Esse intercâmbio de conhecimento se confunde com a própria história mundial. A Rota da Seda, uma rede de rotas comerciais, culturais e tecnológicas, por mais de 1.500 anos conectou a China ao Mediterrâneo e à África e teve um papel central na passagem da Antiguidade para a Era Moderna.
Ao contrário de muitos líderes mundiais que não enxergam além de interesses imediatos e, às vezes, pessoais, é da natureza do cientista o impulso de colaborar pelo conhecimento e solução de problemas.
Para explicar a relação entre cientistas e gestores no âmbito internacional, criou-se uma nova área: diplomacia científica.
Cientistas estão preparados para aconselhar líderes com evidência científica (ciência na diplomacia) e aproximar países com rivalidades históricas (ciência para diplomacia).
Da mesma forma, governos e instituições devem possibilitar a cooperação entre cientistas pelo mundo (diplomacia para ciência). Essa tríade permite um ciclo virtuoso de geração de conhecimento.
Todos somos beneficiários, e alguns até praticantes, da diplomacia científica.
Serviços meteorológicos, SUS, extração de petróleo em águas profundas e até mesmo um ministro que foi ao espaço com a NASA são exemplos de um projeto de Estado que há pouco tempo respeitava a colaboração internacional em ciência.
Hoje vemos a diplomacia científica em ação: cientistas pelo mundo buscam a cura para a Covid-19. Assusta a possibilidade de ficarmos de fora por não ouvir nossos cientistas —fora a tragédia que poderia ser evitada caso seus conselhos embasassem políticas públicas.
Capes e CNPq colocaram a ciência brasileira no primeiro escalão ao incluir a cooperação internacional na formação de pessoas e no avanço de áreas de déficit estrutural no Brasil.
Infelizmente, esse programa de Estado, que sobreviveu a vários governos e crises e viveu seu apogeu nos últimos 30 anos, parece ter sido abruptamente interrompido.
Mas devemos manter o ânimo: temos o Sirius, a maior infraestrutura de pesquisa no Hemisfério Sul.
Temos heróis espalhados pelas universidades, que perseveram em formar mestres e doutores e manter suas redes internacionais ativas. Temos o Instituto Serrapilheira, que em sua tenra idade vem revolucionando a forma de pensar ciência no Brasil.
Nada abala a tenacidade de nossos cientistas-diplomatas. Eles sabem: a história está ao lado deles.
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