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Pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, ensina relações internacionais na UFABC

Eleição americana é bom pretexto para se livrar de Ernesto Araújo

Nem um governo tão grotesco como o de Bolsonaro pode se dar ao luxo de navegar sem chanceler

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Semana movimentada nos bastidores das relações internacionais brasileiras.

Numa só jogada, os senadores aprovaram a nomeação de um batalhão de embaixadores e se deram o prazer de puxar as orelhas do chanceler Ernesto Araújo por conta da visita a Roraima do secretário de Estado americano, Mike Pompeo, em plena temporada eleitoral.

É na aprovação de embaixadores que o Senado exerce o seu poder moderador sobre o Itamaraty.

O chanceler Ernesto Araújo na Comissão de Relações Exteriores do Senado, em Brasília - Edilson Rodrigues - 24.set.20/Agência Senado

Nos tempos de Dilma Rousseff, a rejeição de Guilherme Patriota, indicado de Marco Aurélio Garcia, marcou o começo de uma nova fase da crise entre Poderes. Bolsonaro e senadores certamente trocaram ideias sobre os rumos do Itamaraty antes de enviarem os embaixadores para os seus respectivos postos.

E a gestão do chanceler pode bem ter estado no cerne das discussões. O esotérico ministro tem andado discreto desde a humilhante cavalgada do seu camarada ideológico Abraham Weintraub.

Acabaram-se os textos alucinados e as declarações fastidiosas. O olavismo parece confinado ao canal virtual da pobre Fundação Alexandre de Gusmão, transformada em boteco onde reinam amadores hiperbólicos.

Ernesto submergiu, mas não saiu da mira dos políticos. A escandalosa visita de Pompeo, que usou Roraima como palanque para Donald Trump mobilizar eleitores antichavistas da Flórida, serviu de pretexto ideal para os senadores exporem publicamente um ministro que exaspera Brasília e Faria Lima pela sua inépcia.

O Brasil acabou de atravessar a sua segunda grande crise climática consecutiva, e Ernesto, teoricamente porta-voz da nação no mundo, foi incapaz de balbuciar uma única frase coerente sobre o assunto.

Como se vê na inflação dos preços de alimentação básica, a troca comercial com a China tem impacto direto nas dinâmicas domésticas. E o chanceler, carimbado de fanático pró-Trump, há muito deixou de ser levado a sério por Pequim.


Muitos afirmam acreditar que o ministro, um dos mais icônicos do governo, tem lugar garantido por ser um importante animador de claque. Mas a sua situação tornou-se insustentável desde que o Itamaraty passou a ser conhecido pelos parceiros internacionais como o estorvo da Esplanada.

A eleição americana é o momento ideal para encerrar a farsa. Uma vitória de Joe Biden tornaria inevitável uma reorganização da política externa. Em caso de reeleição de Trump, Bolsonaro berraria nas redes sociais que a sua aposta estava certa, e Ernesto sairia pela porta grande, com a certeza de ter ajudado o Brasil a fazer a travessia para uma nova era populista.

A saída do chanceler responsável por destruir em meses a credibilidade de uma instituição centenária seria unanimemente bem recebida.

Não é preciso ser especialista para constatar que a falência do Itamaraty está entre os principais motivos do colapso reputacional do Brasil e do consequente desabamento do investimento externo.

A verdade é que nem um governo tão grotesco como o de Bolsonaro pode se dar ao luxo de navegar sem chanceler durante todo um mandato.

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