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Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

Programas sobre crimes antigos tomaram um 'banho de loja' e inundam a TV

Gênero ganhou impulso nos últimos anos com a concorrência das emissoras de TV e o crescimento do streaming

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Crimes violentos e infames, ocorridos no passado, com ou sem solução, envolvendo famosos ou anônimos, sempre foram assunto de programas especiais na televisão aberta e por assinatura.

Por décadas, o chamado "docudrama" foi o formato preferido para explorar o fascínio do público pelos enigmas e detalhes escabrosos guardados nos arquivos do noticiário policial. Narrados com gravidade, são programas que misturam, de forma canhestra, depoimentos atuais, imagens de época e encenação teatral das situações mais dramáticas.

O "crime verdadeiro", como os americanos tratam o gênero, ganhou novo impulso nos últimos cinco anos como resultado da concorrência das emissoras de TV e o crescimento dos serviços de streaming. O docudrama tomou uma espécie de banho de loja e se modernizou, sob o formato de minisséries.

Esta nova fase tem três marcos. O primeiro foi "The Jinx", exibido pela HBO em seis episódios, em fevereiro de 2015. De forma cuidadosa e detalhada, o programa contou a história do empresário do ramo imobiliário Robert Durst, suspeito de três assassinatos ao longo de 20 anos. Ganhou dois prêmios Emmy no ano.

Em dezembro de 2015, a Netflix estreou "Making a Murderer", um documentário em dez episódios que levanta dúvidas sobre a condenação de Steven Avery, preso por 18 anos sob acusação de agressão sexual e tentativa de assassinato. Ganhou quatro Emmy em 2016.

E, por fim, há "O.J.: Made in America", lançado em maio de 2016 nos cinemas e, em seguida, na TV. Em cinco episódios, o documentário da ESPN sobre o ex-jogador de futebol americano e ex-ator, acusado de matar a mulher, ganhou o Oscar como filme, mas fez sucesso mesmo na televisão.

Aberta a porteira, os documentários com temática policial em forma de séries tomaram a programação. Mais recentemente, "The Assassination of Gianni Versace", em nove episódios, exibido em 2018 pelo canal FX (e hoje disponível na Netflix), chamou atenção por focar a história no criminoso e não na vítima, o famoso estilista italiano.

"Wild Wild Country", série da Netflix em seis episódios, causou espanto ao resgatar a tentativa do guru indiano Bhagwan Shree Rajneesh (1931-90), também conhecido como Osho, de criar uma comunidade esotérica nos Estados Unidos.

Duas novidades neste início de 2019 se destacam entre os muitos lançamentos do gênero. O primeiro é "Lorena", da Amazon. Em quatro episódios, a série reconstitui a história da manicure Lorena Bobbitt, que castrou o marido, em 1993, em resposta a um histórico de agressões físicas e abuso sexual. O documentário procura trazer para os dias de hoje o debate sobre assédio e violência doméstica.

O segundo é "O Desaparecimento de Madeleine McCann", sobre o sumiço da menina britânica, então com três anos, em 2003, em um resort no Algarve (Portugal). Em oito partes, o programa esmiúça o caso, realçando a visão da polícia portuguesa e de vários jornalistas e advogados que acompanharam o assunto.

Tenho a sensação de que todos os programas citados neste texto se prolongam além do que seria preciso para informar e entreter. Como se todos os detalhes fossem necessários ou ajudassem a esclarecer algo —o que não é verdade—, estendem-se em minúcias irrelevantes e repetições irritantes.

Também é curioso que quase todos esses documentários tratam de forma crítica a maneira como a mídia explorou os respectivos casos policiais na época. Como se não estivessem, eles também, ainda que com algum verniz, surfando na mesma exploração sensacionalista.

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