Siga a folha

Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de "A Invenção de uma Bela Velhice"

Estou com medo de sair de casa

Decisões que antes da pandemia eram triviais agora provocam estresse, angústia e medo de errar

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Uma das razões do crescimento dos transtornos de ansiedade durante a pandemia é a urgência de tomar decisões que antes eram simples e corriqueiras. São tantas as dúvidas sobre o que é mais arriscado que é preciso se questionar o tempo todo: o que posso fazer de melhor para me proteger e cuidar de quem eu amo?

Já me disseram que a pior atitude frente à pandemia é a soma da ignorância com a arrogância. Acrescento dois elementos a essa equação perversa: o egoísmo e a irresponsabilidade.

É triste constatar que tantos jovens (e não só eles) estão indo a bares, festas e aglomerações, sem usar máscara e sem distanciamento, provocando o aumento dos casos em vários países.

Mas nem todos são tão egoístas e irresponsáveis. Apesar da exaustão com a pandemia, muitos têm consciência da gravidade da situação e continuam seguindo os protocolos de segurança. É o que estamos fazendo aqui em casa.

Meu marido está se recuperando de um problema cardíaco que teve em maio. Após sete meses de isolamento, ele começou a sentir dor de dente. A dentista informou que o tratamento necessário duraria no mínimo três horas.

Ele está em dúvida se faz o tratamento agora, pois sabe que o mínimo erro pode ter consequências fatais não só para ele, mas para as pessoas que ele mais ama.

“Estou com medo de ficar tanto tempo de boca aberta em uma sala fechada com ar-condicionado. Mesmo tomando todos os cuidados para me proteger, não me sinto seguro para sair de casa. Não sei o que é pior: o risco do contágio ou o risco de não fazer o tratamento. Esse dilema está me angustiando, pois tenho medo de tomar a decisão errada. Não tenho bola de cristal para enxergar o futuro e saber qual é a melhor escolha.”

É melhor ir ou não ir ao dentista no meio da pandemia? Será que é melhor adiar o tratamento? E se a dor piorar e a gengiva inflamar? É melhor ir logo e evitar que o problema se agrave? Ou ficar em casa e não correr o risco de contágio? Mas quando vamos ter mais segurança para sair de casa? E se a vacina demorar um ano ou mais?

É impossível prever as consequências das nossas escolhas. Ações que antes eram triviais, como ir ao dentista, hoje se tornaram questões de vida ou morte. Sem uma bola de cristal, como tomar a melhor decisão e não correr o risco de errar?

Eu também estou com medo de sair de casa. E você?

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas