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Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de "A Invenção de uma Bela Velhice"

Por que tantos brasileiros sofrem de incontinência verborrágica?

Muitas vezes dá vontade de gritar: 'Você está me escutando? Está me enxergando?'

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Você conhece alguém que não tem a mínima capacidade de escutar, que fala compulsivamente e que não consegue dizer nada de importante? Um amigo ou até um parente que sofre de incontinência verbal, que sua fala é como um vômito ininterrupto de palavras sem significado, emendando um assunto no outro, sem usar ponto, vírgula, exclamação e interrogação?

Há alguns anos escrevi na Folha sobre "A arte de calar". Apesar de ser um tratado de 1771, seus princípios provocam uma reflexão necessária em um momento em que tantos brasileiros têm opinião sobre tudo e são intolerantes, preconceituosos e violentos contra os que pensam diferente.

A arte de calar mostra que corremos mais risco ao falar do que ao calar. Há um tempo certo para falar, mas é importante saber qual é o tempo de calar. O primeiro grau de sabedoria é saber se calar, o segundo é moderar-se no discurso e o terceiro é não falar demais. Só devemos falar quando existe algo a dizer que valha mais do que calar, pois é no silêncio que somos donos de nós mesmos.

Pessoa com máscara com zíper no local da boca - Tobias Schwarz/AFP

E o princípio que é a minha regra de ouro: quando temos algo a falar, precisamos primeiro dizê-lo a nós mesmos para evitar que haja culpa e arrependimento quando já não tivermos o poder de voltar atrás. É o que sempre procuro fazer: primeiro escrevo tudo o que quero dizer e só depois escolho se é melhor falar ou calar.

Afinal, é melhor “passar por não ser um gênio de primeira grandeza, permanecendo em silêncio, do que por louco, abandonando-se à comichão de falar demais. A característica de um homem corajoso é falar pouco e executar grandes ações”.

Se calar é uma arte, escutar é uma arte ainda mais bela. A escuta é profunda, sensível e íntima, busca compreender o que o outro diz, sem antecipações, preconceitos e julgamentos sobre o que é certo ou errado, bom ou ruim. Assim como dizer é diferente de falar, escutar é diferente de ouvir. Escutar é ter interesse, atenção, respeito, generosidade e foco no que o outro precisa dizer. Saber escutar é também saber calar.

Desde menina, sempre gostei muito mais de escutar, observar, ler e escrever do que de falar. Apesar de amar o silêncio, às vezes tenho vontade de gritar para os sociopatas genocidas que disseminam discursos de ódio, violência e destruição: “Você está escutando a dor e o sofrimento de milhões de brasileiros?”

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