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Correspondente da Folha na Ásia

Descrição de chapéu Tóquio 2020

Nos Jogos, nacionalismo ruidoso combina com tambores de guerra

Japão reencontra força no quadro de medalhas e na aliança com militares americanos contra China e Rússia

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Galvão Bueno, apresentador da Globo, e Hu Xijin, editor do chinês Global Times, nem perceberam, mas estiveram lado a lado na revolta contra o suposto favorecimento ao Japão nas Olimpíadas.

Sobre os juízes que deram vantagem a Igarashi sobre Gabriel Medina, no surfe, Galvão falou que erraram feio, porque "o japonês botou a mão na prancha".

Hu não falou, mas a notícia mais lida de seu jornal foi que "Chineses questionam correção dos juízes após Hashimoto levar o ouro". Citando celebridades e "netizens" na plataforma Sina Weibo, publicou que o ginasta japonês "cometeu vários erros enquanto o chinês Xiao Ruoteng não cometeu nenhum".

Não que as coisas sejam diferentes no próprio Japão, em mídia social.

O navio Izumo, que está sendo reformado para ser o primeiro porta-aviões japonês desde a Segunda Guerra, em foto sem data da Força Marítima de Autodefesa do Japão - Reprodução

Quase ao mesmo tempo em que brasileiros e chineses se levantavam contra os juízes, Naomi Osaka era eliminada. Milhares de usuários japoneses do Yahoo News fizeram ou apoiaram comentários agressivos contra a tenista, no noticiário do portal.

Um deles, que foi parar no relato do New York Times sobre a "surra em mídia social" de Osaka, questionou até sua nacionalidade: "Eu ainda não consigo entender por que ela foi a portadora da tocha [na abertura]. Embora diga que é japonesa, ela mal fala japonês". Outra: "Black Lives Matter não é o tema dos Jogos. Ela não foi capaz de se concentrar na partida e mereceu a derrota".

Até então estrela do torneio, Osaka sumiu, trocada na NHK e nas manchetes do maior jornal do país, Yomiuri Shimbun, pelo ouro japonês no softbol.

O nacionalismo nos Jogos está vazando para outras partes. Dividindo a home do Yomiuri, naquela terça (27), surgiu a foto do navio que será transformado até o fim do ano no primeiro porta-aviões japonês desde a Segunda Guerra. O Izumo vai operar com o caça furtivo F35B, dos EUA, e "se destina a conter a China em operações com os americanos".

As vitórias japonesas, com ou sem juiz, estariam se refletindo em maior apoio aos Jogos —e o ex-primeiro-ministro que levou o evento para o país, o nacionalista Shinzo Abe, já reapareceu. Reuniu-se em Tóquio com "membros da assembleia da República da China", nome oficial de Taiwan, e declarou, dirigindo-se à China, no destaque do jornal Nikkei: "O que aconteceu em Hong Kong nunca deverá acontecer em Taiwan".

Outro país que disputa com Japão, China e EUA os diferentes quadros de medalhas, a Rússia, também foi alvo de alerta. O primeiro-ministro russo foi visitar as ilhas Kuril, reivindicadas pelo Japão. Tóquio convocou o embaixador para criticar "fortemente", recebendo resposta igual do Kremlin.

Nesse entrelaçamento sem fim do noticiário olímpico com o geopolítico, o Global Times fechou a semana destacando que a Rússia vai se unir à China para exercícios militares, já em agosto. Serão na China ocidental, longe do Japão, e seus ministros da Defesa mencionaram "a situação no Afeganistão".

Foi logo após o secretário de Estado dos EUA visitar o primeiro-ministro da Índia e tirar dele uma ameaça à China por se aproximar de Paquistão e Afeganistão, manchete nos jornais indianos.

Enquanto isso, prosseguia a revolta em mídia social chinesa com os juízes. Um em particular, que teria tuitado em 2019 que "alguém precisa parar" os chineses, num comentário brincalhão. Mas o juiz é indiano e a frase foi parar nas manchetes no Guancha, hoje o maior site noticioso chinês, em chinês.

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