Roberto Dias

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Descrição de chapéu Tóquio 2020

Mídia chinesa abre guerra contra a cobertura ocidental dos Jogos

'Antiprofissional, desrespeitosa e com armadilhas': as críticas de Pequim

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Mais fácil atravessar a Muralha da China do que chegar às capas da mídia local o “desespero da imprensa chinesa” relatado nesta quinta (29) pela reportagem da SporTV na beira da quadra do vôlei feminino, onde a seleção oriental, outrora potência, sofria mais uma derrota.

No site da emissora CGTN, contavam-se entre os destaques, nas últimas horas, 16 notícias positivas para o esporte chinês e nenhuma negativa. Na home do China Daily, o placar era 7x0.

O quadro de medalhas repete a guerra de enfoques de outras edições dos Jogos. Enquanto a mídia americana destaca seu critério de ranking pelo total de medalhas com os EUA à frente, os chineses fazem a lista pelo número de ouros, com a China na dianteira. Vale lembrar que, ainda que exista um quadro (por ouros) no site do Comitê Olímpico Internacional, ele não é reconhecido oficialmente como resultado dos Jogos.

Quadro de medalhas na visão americana (esq.) e chinesa (dir.) - Montagem a partir de reproduções

Dentro da China, críticas são abafadas, como mostra o caso de Wang Luyao, favorita no tiro que acabou caindo mais cedo que o esperado. “Peço desculpas, admito que amarelei”, postou ela no Weibo, a versão chinesa do Twitter. Seguiu-se uma série de críticas de usuários, levando a censura a agir: dezenas de contas pessoais foram suspensas e o post da atleta foi apagado.

Bem menos sutis são as críticas chinesas à cobertura dos Jogos pela mídia ocidental.

A embaixada chinesa em Sri Lanka atacou a agência de notícias Reuters, sediada em Londres e pertencente a um grupo canadense, por causa de uma imagem do levantamento de peso —era a atleta Hou Zhihui fazendo força na prova que lhe deu ouro.

“Entre todas as fotos do esporte, a Reuters escolheu essa, que mostrar apenas como eles são feios. Não coloquem a política e a ideologia acima do esporte e digam que são uma organização de mídia sem viés. Sem-vergonhas. Respeitem o espírito das Olimpíadas”, afirmou a embaixada em um tuíte.

Problema: três grande publicações chinesas haviam utilizado a mesma imagem, depois trocada.

A embaixada chinesa não se fez de rogada. Emendou outro tuíte, com imagens de atletas ocidentais. “Mesmo dia, mesmos Jogos, mesma Reuters, diferentes faces. Talvez isso aconteça porque tudo na vida seja mais fácil para os ocidentais brancos?”

Em relação à NBC, detentora dos direitos de transmissão para os EUA, as críticas foram para o mapa mostrado na abertura, que não mostrava Taiwan (nos Jogos chamado de Taipé Chinês) como parte da China, como considera o governo de Pequim. “É falta de bom senso”, tuitou o consulado chinês em Nova York. Na TV, enquanto a delegação chinesa desfilava, o locutor da NBC falava para a audiência se lembrar de Hong Kong e Xinjiang, território onde vivem grupos étnicos minoritários.

Também a CNN entrou na mira, por causa do título “Ouro para a China...e mais casos de Covid” —a segunda parte do enunciado não tinha nenhuma relação com os chineses.

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Título da CNN critica do pelos chineses - Reprodução

No site da emissora de TV chinesa CGTN, artigo do paquistanês Hamzah Rifaat Hussain dizia que a “a cobertura da mídia ocidental é vergonhosa”. Segundo ele, “é preciso haver um entendimento de que a pureza das Olimpíadas precisa ser respeitada a todo custo a despeito das tensões políticas”. Acrescentou: “Reuters, NBC e CNN se recusam a separar a política do esporte”.

Já o tabloide Global Times, igualmente controlado pelo Partido Comunista Chinês, publicou artigo que chamava a cobertura ocidental de antiprofissional. “Adoramos ler reportagens tocantes sobre atletas ocidentais, mas as histórias maravilhosas dos chineses também merecer ser contadas e não manchadas”.

Em outro texto, no mesmo Global Times, as perguntas dirigidas a duas chinesas dos saltos ornamentais eram definidas como “armadilhas jogadas pela mídia ocidental”, das quais, diz o veículo, as atletas conseguiram se livrar.

A mídia americana também destaca enfaticamente os triunfos locais, mas era possível ler títulos sobre atletas doentes, com críticas à conduta dos dirigentes com Simone Biles e lamentando o desempenho da seleção feminina de futebol. Mas na home do jornal The New York Times destacava-se também: “O único objetivo da máquina chinesa de esporte: medalhas de ouro a qualquer custo”.

Erramos: o texto foi alterado

Versão anterior deste texto inverteu os critérios habituais de contagem de medalhas: nos EUA ela é feita pelo total de pódios, e na China pelo número de ouros. Hou Zhihui é uma atleta, não um.

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