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Correspondente da Folha na Ásia

Descrição de chapéu toda mídia

Biden tentou se aproximar, mas ameaças de Bolsonaro atrapalharam

EUA querem Brasil na Cúpula das Américas em Los Angeles, no mês que vem, mas ataques ao sistema eleitoral pesaram

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Um mês atrás, Joe Biden recebeu no Salão Oval o embaixador brasileiro, que foi "transmitir as garantias de amizade de Bolsonaro". O presidente americano posou apertando sua mão, em mídia social.

Duas semanas depois, Biden incluiu num discurso a promessa de pagar para o Brasil proteger a Amazônia. Em seguida, sua subsecretária de Estado, Victoria Nuland, viajou a Brasília para um Diálogo de Alto Nível EUA-Brasil.

Posando em mídia social com o chanceler de Bolsonaro, ela saudou a "parceria profunda", cujo "histórico de cooperação mostra o potencial de fazer muito mais juntos".

Na visita, Nuland foi questionada sobre as críticas de Bolsonaro ao sistema eleitoral e disse, segundo a Reuters: "Nós temos confiança no seu sistema e vocês precisam ter, inclusive no nível de liderança".

A vaga ressalva só foi aparecer no quinto parágrafo da reportagem de 25 de abril. O título, a partir de outra declaração da subsecretária, era "EUA buscam laços mais estreitos com Brasil em momento de turbulência e guerra".

No dia 30, Scott Hamilton, que era o cônsul-geral no Rio até o ano passado, publicou o artigo "Defendendo a democracia" no jornal O Globo, cobrando seu próprio país: "Em meio a ameaças às instituições democráticas no Brasil, os EUA permanecem passivos".

Escreveu que "Bolsonaro e seus apoiadores tentam sabotar a integridade do processo democrático e suas, em geral, espetaculares instituições independentes —imprensa, ONGs, TSE, STF e o próprio sistema de votação". E encerrou: "A hora para os EUA se manifestarem é agora, não quando uma crise estiver em curso ou depois dela".

Nada aconteceu. No dia 3 de maio, o embaixador brasileiro recebeu o secretário-assistente de Estado para as Américas, com uma delegação da organização AS/COA, "que representa empresas bem estabelecidas no Brasil", como tuitou.

Aí tudo mudou. No dia 5, quinta passada, aconteceu o vazamento à mesma Reuters, quase uma ordem, "Exclusivo - Chefe da CIA falou ao governo Bolsonaro para não mexer com a eleição do Brasil, dizem fontes" (título reproduzido acima). Não se tratava mais de diplomatas, mas da agência de espionagem.

O diretor da CIA, William Burns, em julho do ano passado, teria dito aos "ex-generais" Luiz Eduardo Ramos e Augusto Heleno "que o processo democrático era sagrado, e que Bolsonaro não deveria estar falando dessa forma".

A Reuters anotou que Washington vinha "buscando melhorar os laços com Brasília nas últimas semanas", visando um encontro dos dois presidentes na Cúpula das Américas em junho, em Los Angeles, "se Bolsonaro participar".

Não se sabe, sobretudo após a cobrança pública, se Bolsonaro vai. Mas a cúpula já vem fazendo água, segundo artigo na Foreign Policy, de Christopher Sabatini, especialista em América Latina no centenário "think tank" Chatham House.

Alertando que o encontro "pode ser a lápide da influência dos EUA na região", ele sublinha que, faltando um mês, os convites ainda nem foram enviados —e 12 postos de embaixador na América Latina estão vagos, inclusive no Brasil.

"Até agora, as iniciativas regionais do governo Biden consistem de visitas diplomáticas, promessas vazias e uma cascata de sanções, [sem] fornecer alternativas substantivas às propostas econômicas da China", escreve Sabatini.

Em suma, "uma cúpula com baixa presença, movida a trivialidades e substancialmente vazia seria pior do que uma festa ruim: serviria para muitos, inclusive a China, como encerramento embaraçoso da influência dos EUA no Hemisfério Ocidental".

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