Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

Atraso de licenças de importação da Argentina cria risco para indústria de calçados

Segundo entidade do setor, a maioria dos pares de sapato que aguardam liberação excedeu prazo máximo de 60 dias

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São Paulo

Os impactos das barreiras colocadas pela Argentina para emitir licenças de importação de produtos brasileiros, que começaram a ser sentidos em agosto por indústrias nacionais, ainda atinge o setor calçadista.

Dados recentes da Abicalçados, entidade que representa as indústrias de sapatos, mostram que 328 mil pares aguardam liberação do governo argentino e 315 mil deles excederam o prazo máximo de 60 dias estabelecido pela OMC (Organização Mundial do Comércio) para processar a autorização.

A última década começou com Brasil e Argentina sendo governados por mulheres e de posicionamento político de esquerda. Reuters/Paulo Whitaker

Os dois países começaram a década com crescimento superior a 3,5%. Mas, ainda sob o governo Dilma, o Brasil entrou em uma forte recessão, com aumento do desemprego e desaquecimento do mercado, o que acabou afetando o país vizinho diretamente. Folhapress/Rivaldo Gomes

Esse foi pontapé inicial para desgastar a cooperação entre os vizinhos. Como o foco da indústria automotiva argentina era exportação para o Brasil, e o mercado brasileiro estava fraco, a Argentina não escapou dos impactos da crise brasileira. Se em 2011 a produção de veículos lá chegou a 820 mil, em 2016, o número fechou em 470 mil. Folhapress/Daniel Marenco

Pouco depois da metade da década, o quadro político ganhou novos contornos. Dilma sofreu impeachment e foi substituída por Michel Temer, enquanto Cristina Kirchner foi sucedida em seu cargo por Maurício Macri. A esquerda deixou o poder e governos mais liberais ganharam espaço em ambos os países. Folhapress/MATEUS BONOMI

A eleição de Macri foi a esperança de que um governo liberal desse uma guinada na economia argentina, mas não foi exatamente isso o que ocorreu. AFP/RONALDO SCHEMIDT

O governo Macri chegou a tomar medidas para conter a inflação, como a emissão de cédulas de 200, 500 e 1.000 pesos, mas nada segurou a sangria da economia argentina, que a partir de 2019 viu sua moeda derreter diante do dólar. Folhapress/

Após muita instabilidade econômica e dificuldade em renegociar dívida com FMI, Maurício Macri acabou perdendo as eleições de 2019 e foi sucedido pelo kirchnerista Alberto Fernández, cuja vice é a ex-presidente Cristina Kirchner. /[e]MARTIN ZABALA

Enquanto a esquerda retorna ao poder na Argentina, no Brasil o governo de Jair Bolsonaro, assumidamente conservador e contrário a pautas de esquerda, deixa claro desde o começo do mandato que o Mercosul não seria uma prioridade . Folhapress/Pedro Ladeira

Com isso, os países que começaram a década com um fluxo comercial de US$ 39 bilhões fecharam as relações comerciais em 2019 com a soma de importação e exportação em US$ 20,8 bilhões. Folhapress/Eduardo Knapp

O número total de pares diminuiu desde outubro, quando levantamento da entidade apontou que havia 847 mil em espera. Desses, 358,5 mil tinham ultrapassado o prazo da OMC.

Para Haroldo Ferreira, presidente da Abicalçados, a preocupação agora é com a quantidade elevada de mercadoria que aguarda a licença há mais de 60 dias. Ele diz que, caso os atrasos se estendam, receia começar a receber pedidos de prorrogação de pagamento por importadores argentinos.

Ricardo Balthazar (interino), com Filipe Oliveira e Mariana Grazini

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