Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012
Governo é intimado em processo de empresas brasileiras contra a Boeing
Entidades acusam Boeing de roubar engenheiros altamente qualificados e projetam descompasso no setor aeroespacial com saída do chamado "nicho do nicho"
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O juiz Renato Barth Pires, da 3ª Vara Federal de São José dos Campos, intimou a União, nesta quarta-feira (23), a se manifestar em uma ação de entidades brasileiras contra a Boeing por suposto roubo de engenheiros altamente qualificados. O governo terá dez dias para indicar se pretende ingressar na ação contra a companhia norte-americana como parte interessada.
Nesta terça-feira (22), Abimde (Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança) e Aiab (Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil) protocolaram uma ação civil pública contra a Boeing, acusando a empresa de captar profissionais para reforçar suas fileiras.
As associações concentram a Base Industrial de Defesa (BID) do país, organização que reúne companhias responsáveis pela inovação e desenvolvimento na área de defesa aeroespacial brasileira. A Embraer é o principal quadro do setor, que reúne mil empresas entre privadas e estatais.
Segundo as entidades, a Boeing teria tido acesso aos dados dos engenheiros durante diligência na Embraer, alvo de uma joint-venture que não prosperou. Consultada, a Boeing não quis comentar. No entanto, um executivo do grupo afirmou, reservadamente, que a livre concorrência rege o mercado e nada impede que a empresa busque talentos mundo afora.
As entidades afirmam que não se trata de um ataque ao livre mercado, uma vez que retirar esses profissionais do Brasil, vistos como "nicho do nicho", compromete todo o ecossistema aeroespacial e de defesa do país.
As autoras da ação consideram que a Boeing perdeu espaço no mercado com a corrida deflagrada pela SpaceX, do bilionário Elon Musk, e a Blue Origin, de Jeff Bezos, o que explicaria o interesse súbito nos engenheiros brasileiros.
Segundo dados do setor, nos últimos anos cerca de 1.600 engenheiros receberam qualificação avançada para operar em setores estratégicos das empresas. Essa formação é feita em institutos como o ITA e a UFSCar.
Um levantamento prévio aponta que a Boeing retirou do mercado brasileiro pelo menos 200 profissionais. A captura desses quadros pode gerar um descompasso no setor, que já conta com mão de obra técnica escassa.
"Não é a questão de uma empresa ou outra, mas de toda uma base industrial que foi afetada pelas contratações da Boeing", disse ao Painel S.A. Julio Shidara, presidente da Aiab.
Julio Wiziack (interino) com Paulo Ricardo Martins e Diego Felix
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